quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Impressões: Cidadão 8.5.1, de Rob Stalisz

Mais uma leitura de autor independente. Entrei no mundo distópico (ou utópico?) do autor Rob Stalisz, e viajei numa tortura mental de arrepiar os cabelos. Conheçam Cidadão 8.5.1.



Sinopse:
Guiados pelo Avisor Pessoal, uma fantástica máquina especializada em cuidar de cada cidadão, aquela sociedade parou de pensar, parou de questionar, parou de se preocupar com que devia sentir. A vida se tornou muito mais fácil, tudo estava completamente simplificado. Todos seguiam um padrão e a felicidade, seja lá o que isso fosse, finalmente foi alcançada. É nessa sociedade idealizada que vive Sonesen Smith, um conceituado cientista com uma importante missão: desenvolver um revolucionário equipamento, capaz de simplificar ainda mais o modo de viver. Porém, uma estranha experiência o colocará em conflito, mudando completamente o rumo de sua vida ao rasgar a cortina ilusória que cobre aquele modelo social, revelando aquilo que poderia ser a verdade, ou apenas o delírio de um homem.
Uma história perturbadora, repleta de reflexões sobre a forma como as pessoas aceitam passivamente os moldes sociais em que estão inseridas, evitando lutar pela decisão de suas vidas, em um mundo de dependências tecnológicas. Um livro incomum. Um mergulho profundo numa espiral de loucura, num futuro utópico e dissimuladamente controlado.


Em Cidadão 8.5.1 acompanhamos o Dr. Sonesen Smith em sua pacata vida numa cidade cinzenta e monótona, que parece funcionar com precisão milimétrica. Sendo um agente de importância ímpar numa indústria de tecnologia, o personagem principal cede seu ponto de vista como guia à narrativa em terceira pessoa e tomamos conhecimento de como funciona tudo naquele mundo distópico, onde os computadores programam e regulam todas as atividades humanas, que são executadas sem contestação.

Após uma crise emocional recente, devido ao insucesso profissional em uma disputa com o laboratório concorrente, Sonen começa a destoar do comportamento ideal, e suas atitudes se revelam cada vez mais perigosas para a manutenção da sociedade perfeita. A narrativa se entrelaça no ponto de descontrole do personagem enquanto o mesmo ingressa numa pesquisa que visa exatamente o contrário: a solução definitiva para suprimir as emoções e garantir o adestramento humano.

A história tem um início modorrento, que combina com a ambientação do lugar que o leitor passa a conhecer, e casa muito bem com o clima do enredo, mas talvez esse marasmo dure mais do que devia: a agitação só aparece depois da metade do livro, o que pode deixar o leitor um tanto desmotivado com a história; para intensificar essa falta de ritmo, o livro possui um vocabulário bem limitado e abusa de adjetivações esquisitas, propositadamente colocadas antes do sujeito ou objeto, que soam forçadas em vários momentos – essas características também melhoram na metade final do livro, mas não chegam a desaparecer.

A visão política é muito explorada no enredo, deixando claras as convicções do autor, que critica não só nuances reais da sociedade, como também aspectos ideológicos, com algumas alegorias, até. A carga psicológica do personagem principal é bastante aprofundada, mas o clima varia de insatisfação com a vida a momentos de pleno desespero. Cidadão 8.5.1 definitivamente não é uma história alegre, de superação e salvação, é um romance denso, que leva o leitor para uma sociedade chata e desesperançada.

O que gostei:
- Dilemas vivenciados pelo personagem principal
- Idealização da cidade perfeita
- Críticas sociais bem atuais

O que não gostei:
- Erros gramaticais e ortográficos, desde flexão de verbos ao uso inapropriado de substantivos e crase
- Utilização de adjetivos
- Vocabulário muito básico: “grande” aparece adjetivando dezenas de vezes, e muitos objetos nomeados e substantivos são usados de forma genérica
- O autor faz uso vasto de metáforas, algumas delas fazendo referência a magia, sacralidade, épocas primitivas da humanidade; de alguma forma isto quebrou o clima futurista e tecnológico da narrativa, mais do que o intensificou (o que provavelmente era a intenção)

Considerações finais:

Cidadão 8.5.1 é um bom livro, com um enredo interessante e um clima agradável de filme dos anos 60, mas que sofreu com a falta de revisão e um estilo de escrita incipiente. Por ser o primeiro livro do autor, talvez isso possa ser melhorado em obras futuras, considerando que o problema foi realmente falta de experiência.



quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Impressões: A trilogia Dupin, de Edgar Allan Poe


O post de hoje um livro com três histórias, se trata de A trilogia Dupin, que tecnicamente nem deveria ter entrado na minha lista de leitura. Eu estava buscando algo de terror além de Lovecraft, e fui atrás da primeira coisa de Poe que surgiu na minha frente. Acontece que este livro é muito mais policial que propriamente terror, OU NÃO, pode ser que o terror de Poe seja totalmente pautado no estilo realista e policial (acabei de googlar e descobri que sim, ele tem muito terror fantasioso, mas a ficção policial também é muito presente em suas obras). Vamos à sinopse e em seguida minha opinião:

A Trilogia Dupin

O Dupin de "os assassinatos da Rue Morgue", "O mistério de Marie Rogêt" e "A carta roubada" é um personagem impagável. Nobre falido e excêntrico, Dupin se compraz em utilizar apenas seus agudíssimos recursos de análise e dedução para desvendar crimes que deixam impotente G., o Chefe de Polícia de Paris.
A Trilogia Dupin - Os Assassinatos da Rue Morgue; O Mistério de Marie Rogêt; A Carta Roubada.

No livro, acompanhamos o relato de um homem que resolve contar como conheceu Auguste Dupin, um excêntrico e extraordinário homem com capacidade analítica fora de série. Durante sua estadia em Paris, onde residiu com Dupin, o narrador tomou parte na solução de 3 casos notórios pelo seu engendramento ou aparente impossibilidade de ocorrer. É interessante notar durante a leitura como o raciocínio de Dupin é fantástico e certeiro, analisando evidências e corrigindo sem pudor autoridades policiais e nomes da mídia parisiense. Por serem casos de assassinato, há uma dose cruel e até insensível de impessoalidade nas descrições dos corpos ou cenas de crime, mas nada que vá tirar o sono de alguém. Os personagens são pouquíssimos e quase nenhum além de Dupin é realmente explicado, o que faz sentido quando se percebe que todo o livro gira em torno da capacidade analítica dele e dos meios que usa para encontrar a verdade, algumas vezes sem sequer precisar levantar da poltrona.

As três histórias são claras, escritas com um vocabulário extenso e às vezes específico da ciência forense. O ritmo, no entanto, é inconstante, pois muito do caso analisado ou da relação entre o narrador e Dupin é interrompido para discussões sobre pragmatismo, vícios e a mentalidade analítica e probabilística na busca de solucionar crimes. Essas divagações não são enfadonhas, pelo contrário, fazem o livro ter a qualidade espetacular que apresenta, mas especificamente no segundo texto, O mistério de Marie Rogêt, tomam proporções absurdamente longas e acabam cansando a leitura, pois este conto é montado apenas com as tiras de jornais sobre o crime e as análises de Dupin em cima do que dizem os jornais e testemunhas; são páginas e páginas de agrupamento das pistas, muitas delas erradas (de propósito ou não) seguidas de longas ponderações de Dupin. O texto é bom, mas cansa tanto que cogitei largar o livro.

O que gostei
-Vocabulário rico e gostoso de ler
-Frases muito bem montadas, estilo de escrita estupendo.
-Crimes bem pensados e soluções surpreendentes
-Personagens bem descritos, ainda que Dupin e as vítimas monopolizem a atenção

O que não gostei
-O segundo conto, apesar de ser bom, é exageradamente parado, deixando várias oportunidades para um leitor não muito motivado abandonar a leitura.

Considerações finais
A trilogia Dupin é um ótimo livro, mas que o leitor precisa saber primeiro o que vai encontrar, para evitar um susto com a narrativa, que é intensa, especialmente se comparada com os livros policiais "normais", que somam mistério, ação e um pouco de aventura ao pensamento analítico, que é absoluto nesta obra de Edgar Allan Poe.



domingo, 12 de outubro de 2014

Impressões: Revista Trasgo #4


Fechando mais uma leitura da revista digital Trasgo, deixo aqui minha opinião - curta, mas sincera - sobre os contos presentes na última edição, de número 4. Vale lembrar que achei alguns erros de digitação nesta edição; não lembro de ter visto isso nas anteriores, mas mesmo assim foram apenas 3 ou 4, nada que prejudique a leitura.

Trasgo 04 - Capa - mini

O conto que abre a edição é de autoria de Gerson Lodi-Ribeiro e se chama Rendição do serviço de guarda. Esse é o conto mais longo da revista. Pelas palavras do autor, somos puxados para um universo futurista onde a ideia dos deuses astronautas é uma realidade, juntamente com um tipo de darwinismo galáctico que descambou na inevitável guerra entre dois grandes grupos de espécies de seres vivos inteligentes. A construção do conto é muito focada no cenário, relacionando a linha de tempo de alguns personagens com o desenvolvimento da raça humana na Terra, e aproveitando esse momento para expor algumas discussões filosóficas interessantes. O espaço para dar andamento ao enredo acabou sendo muito curto, se comparado ao texto do worldbuilding, mas foi executado de forma coerente e satisfatória, apresentando o problema e a solução sem muitos rodeios. Por não ser fã de FC Hard, demorei um pouco para engrenar a leitura, devido ao começo ser bastante puxado no gênero, mas depois da metade a escrita se torna bem mais rápida. Recomendo, principalmente para os fãs de FC hard.

O conto seguinte é Vivo, Morto. X.,  de Érica Lombardi. Uma história curta, urbana e, em certo grau, abstrata. Conhecemos Guilherme, um cara babaca, mas de bom coração, que topa com uma criatura sobrenatural prontinha para atormentar sua cabeça com um jogo psicológico muito perigoso. A fantasia sobrenatural do conto gira em torno da criatura, que aparece sobre a forma de uma garota chamada Ana, e desaparece assim que ela sai de cena. A autora tem uma voz bem pessoal, vale a pena memorizar o nome para uma busca futura.

O terceiro conto é Isaac, de Ademir Pascale, e foi para mim a grande decepção da revista. Cenário clichê, cenas despropositais e que não fazem sentido definem o conto. O lado bom é que o autor tem uma habilidade monumental em criar suspense, e eu acabei me interessando e lendo mais e mais, mesmo com as incongruências que apareciam a todo momento. Os elementos do conto também mostram que o autor sabe escolher peças-chave para montar uma história cativante, como o cenário apocalíptico e os habitantes com seus costumes hediondos, mas a falta de algum trabalho para diversificar esses elementos deixou tudo muito na mesmice, e os furos de roteiro deixaram a impressão de ser uma leitura para adolescentes, nada além disso.

Mary C. Muller escreve o conto seguinte: Estive assombrando seus sonhos. Conhecemos Felipe, um garoto com mediunidade, e sua rotina de convivência com fantasmas, vampiros e afins num magnífico conto infantil. O enredo trata de uma alma penada que aparece pedindo socorro de uma maneira diferente, e o garoto logo precisa da ajuda de outros seres sobrenaturais para resolver o problema da garota-fantasma. Com exceção da caracterização de Felipe com sua família e cotidiano "humano" no início do conto - que achei de um tom negativo, maduro e desnecessariamente complexo - a história é sensacional, muito divertida e recomendada para qualquer um acima de 8 anos.

O conto seguinte é Arca dos Sonhos, de Fred Oliveira. Confesso que não gostei muito, mas a escrita do autor é muito refinada; o enredo é que não tinha uma intenção muito clara do que pretendia passar. Embarcamos numa space opera com um tom de "aventura naval" bastante óbvio e emocionante, mas sem muito sentido. A tal arca parte com sua tripulação que faz parte de si, integrada mental e organicamente pela tecnologia, em busca de um destino que não se deixa claro o quê (nem para o leitor nem para os personagens), encabeçada pelo capitão sonhador, que se mantém fiel à sua vontade de realizar seu desejo nem que precise passar a eternidade inteira na busca. Talvez tenha faltado algumas páginas para estender mais o enredo e esclarecer uma coisinha ou outra, porque de resto, o conto é muito bom.

Fechando a revista com chave de ouro, Jessica Borges nos apresenta No labirinto. Conto de fantasia onírica, que já deixei claro no post da Revista Trasgo #3 ser um tema que gosto DEMAIS, que nos leva ao dia-a-dia de Sarah, ou melhor: apenas a parte do dia em que ela está dormindo. Com uma trama inspirada em um filme que eu nunca vi, Jessica desenvolve um lado emocional de maneira espetacular, com um enredo simples e direto, uma linguagem que prende o leitor e uma habilidade maravilhosa de surpreender. Nota 10, parabéns para a autora.






sábado, 4 de outubro de 2014

Minha vida (de leitor) comparada



Um texto rápido só para cortar a enxurrada de resenhas postadas consecutivamente, e o assunto é a interação leitor-resenhista-autor. Recentemente entrei num grupo de resenhistas, com intuito de fomentar a produção nacional resenhando e divulgando títulos independentes, e até agora tudo tem dado certo, mais até que o imaginado, e as intenções são de melhorar ainda mais. Neste grupo, passei a ter contato não só com a resenha, como se dá lendo um blog ou caderno de jornal, mas também com o resenhista, e olhando o processo de análise e redação de cada um - são vários, é bom lembrar - pude fazer uma análise do meu próprio estilo de resenhar.

A primeira questão a se apontar é logo a mais polêmica: notas são necessárias? Para alguns, sim, para mim, não. A resenha serve para avaliar o livro em vários aspectos e concluir se vale indicar ou não a leitura. E tudo isso se expressa no próprio texto da resenha. Dar uma nota com base no que se diz ser “um fechamento” da resenha, para mim, é um despropósito, uma vez que o fechamento serve para considerar tudo que foi dito, e um número não é capaz de fazer isto. Mesmo considerando notas isoladas para cada critério de avaliação, o numeral não faria jus ao livro. Como exemplo, vamos imaginar que nota seria dada apenas no critério ‘Personagens’ nos seguintes casos: O livro chega no clímax com uma mãe doando um órgão para o filho necessitado. O livro remete ao amor da mãe em diversas passagens no livro, sejam longas ou curtas, densas ou triviais, sempre enaltecendo o amor que sente pelo filho, sem haver no enredo uma cena emblemática que evidencie esse amor maternal tão pujante.

Muitos resenhistas que vejo, não necessariamente os que fazem parte do grupo citado anteriormente, considerariam uma dessas expressões do autor como tendo qualidade e a outra não, no que tange a desenvolvimento da personagem Mãe. O ponto de vista do resenhista não é o importante, ele pode exaltar o segundo caso ou o primeiro, o leitor da resenha vai analisar a opinião e decidir se concorda com o critério desenvolvimento de personagem. Mas quando existe uma nota para o critério, a coisa muda. Se o resenhista a aprecia livros que se encaixem no caso 1, terá que dar uma nota baixa caso o livro lido apresente o caso 2, e vice-versa. E o parâmetro do leitor passa a ser a nota, sem saber realmente se aquele numeral representa a qualidade do livro individualmente ou num contexto comparado. Claro, há a justificativa de que a nota é só um complemento, mas como pode ser um complemento à resenha, algo que restringe o seu entendimento?

A segunda e última coisa que quero deixar registrada aqui no post é, sim, bastante associada ao grupo que faço parte. É a relação autor-resenhista. Ao meu ver, a resenha é a visão de quem escreve, e num contexto ideal, deveria refletir fidedignamente a impressão do leitor-resenhista. Quando se lê um autor estrangeiro ou falecido, há uma razão para não incluí-lo na equação da resenha, mas no meu caso, que estou fazendo resenha de um livro nacional, e ainda por cima independente, o contato com o autor é algo não só possível, mas recomendado! Por não ter prazos a cumprir até que a edição seja impressa, eu como resenhista me sinto à vontade para redigir calmamente, e buscando o autor para uma conversa livre sobre a obra. E não é isso que vejo em 99% dos leitores, blogueiros, jornalistas e vlogueiros literários; há uma aura sagrada que limita a percepção do resenhista sobre a obra exclusivamente nas palavras do livro. É um pecado capital evitar o autor para emitir uma opinião “livre de influências”, como se o autor, num bate-papo sobre seu livro, só possa ser desonesto ao ponto de passar informações de maneira a manipular o andamento da resenha? Não, assim como o inverso também não é pecado algum. Em minhas análises, me sinto satisfeito em dizer que já consultei autores nacionais quando da elaboração de resenha para um de seus livros. E em livros internacionais, se houver a oportunidade, também farei. Acredito que este seja um traço de orgulho para mim, pois evito preâmbulos introspectivos, buscando em mim respostas para minhas próprias perguntas, e ainda incremento um pouco de honestidade da resenha, já que o leitor pode ter uma informação do livro dada pelo autor, e que talvez eu não fosse capaz de captar na leitura.

Por hoje é só, e que venham para minha lista de leitura mais livros escritos por autores amigáveis.

Casos de informações que consegui através das autoras Vanessa Nilo e Lívia Stocco, em livros já resenhados aqui no blog:






sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Impressões: Revista Trasgo #3


Cá estamos com a terceira edição da Revista Trasgo. Confesso que houve certa decepção durante a leitura; ainda que ao final meu veredito seja positivo, alguns contos desta edição não me cativaram como eu esperava, especialmente se a leitura for comparada às edições #1 e #2. O formato é o mesmo: fiquem com a capa e as minhas breves considerações sobre cada conto.

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O primeiro conto que li foi Rosas Brancas, de Roberto de Souza Causo e já iniciei a edição fora da zona de conforto. Meu gosto para ficção científica é bastante restrito, prefiro quando o texto se mantém ficção científica a quando se apresentam mais como ciência ficcional, se posso assim diferenciar. A narrativa do autor é muito bonita, com toques de poesia aqui e ali, e a trama se desenvolve agilmente com pitadas de amores destruídos (maternal e conjugal). Mas aí vem a ciência especulativa, cheia de termos e extrapolações que particularmente vejo como o floreio desnecessário nas histórias futuristas (mas, como diz uma amiga minha, fazer o quê?). Aos apreciadores desse tipo de inserção tecnológica em histórias, provavelmente o conto será muito bem vindo com a sua temática orgânico-cibernética.

Retornei ao início do ebook para ler o primeiro conto da edição: O empacotador de memórias, de Gael Rodrigues. O meu motivo para ter pulado o conto é bastante particular: eu tenho um problema de falta de memória, e é muito, muito raro (mas não impossível) eu acabar gostando de histórias com esse tema, justamente por tratar de um tema que afeta bastante (negativamente, devo frisar) a minha vida. O conto mostra a infância e vida adulta de um homem solitário que descobriu como guardar memórias em bolhas de sabão e caixas de papelão. A escrita é bem tranquila, mas a narrativa exige algumas abstrações, fazendo o leitor se perguntar o significado de uma memória e o que ela afeta o que ele é ou já foi na vida. O final achei bem intrigante.

Feita de um sonho é o terceiro conto da revista, e é de autoria de Caroline Policarpo Veloso. Este conto foi o que me impulsionou a continuar lendo, ao invés de desligar o Kindle e postergar a leitura (algo que faço muito quando leio coletâneas de contos). O tema me afetou de maneira oposta à leitura anterior, uma vez que eu sou um onironauta (ainda que tenha poucas viagens completadas com êxito) e falar sobre sonhos - lúcidos principalmente - é algo que gosto muito. Caroline me presenteou com uma escrita super fluída e uma história com um ritmo sensacional que nos faz pensar sobre a correria cotidiana, nossas inseguranças (in)conscientes e a importância que um sonho pode ter na vida pessoal. O aspecto fantástico do conto acabou ficando diluído, sem tanta importância, mas no final a dose de fantasia foi incrementada, deixando-me satisfeito. Infelizmente fiquei com a sensação de que o conto ficou inacabado; não sei se a autora pretende expandir essa história, mas se acontecer,.com certeza é algo que eu comprarei.

Pulei novamente a ordem da revista para o conto Viral, de Tiago Cordeiro. A história nos mostra uma abordagem diferente sobre uma infestação zumbi, e apesar de achar muito criativa a forma que ele deu à essa infestação, o transcorrer da história não me agradou. atribuições matemáticas e sonoras aparecem no conto junto a vários outros elementos jogados num enredo corrido e inconclusivo. Não chamaria de formal, mas a escrita do autor me pareceu automática, e, sem ser cativado, terminei a leitura sem muita vontade de pensar sobre o que tinha acabado de ler.

Voltei para páginas anteriores e encontrei Invasão, de Cláudio Parreira. O texto é simplesmente GENIAL, comédia sensacional que eu não posso falar muito a não ser dizer que é foda e que me diverti bastante lendo. Gostei tanto da trama quanto da escrita do autor, mas para não dizer que só falei bem, me sinto na obrigação de informar uma coisa ao autor: Regiane Alves>>>>Bruna Lombardi.

Para finalizar, o conto O vento do oeste, de Liége Báccaro Toledo. Uma história de fantasia com inspiração nos mitos árabes e ambientação desértica, onde conheceremos parte da vida de um mestiço que busca um lugar onde sua descendência demoníaca não seja motivo de ódio e rejeição. O enredo é legal, mas muito centrada no desenvolvimento do personagem e, até a parte mais avançada, sem muitos motivos externos para fazer a trama seguir. Felizmente a escrita da autora é simples e estimulante, o que compensou a minha vontade de fazer pausas e pude terminar de ler sem interrupções.


A edição #4 já está disponível NO SITE e comecei a ler hoje cedo.  =)


Impressões: Bukowskianos, de Murillo Magaroti


No embalo da leitura, vou quebrar minhas regras textuais e fazer a resenha ao estilo Bukowskiano. Nada de tópicos com pontos positivos ou negativos – fazer o quê? Gosto de listas, e você também, aposto! Em Bukowskianos, Murillo Magaroti oferece um verdadeiro trabalho de fã, e isso não é só evidenciado no título; segue a sinopse:


Bukowskianos traz 43 pequenos contos que falam principalmente de gente sem muito brio, bebidas, escritores e da complexidade em tudo na vida. São contos que passeiam pelo mundo da crônica e que fazem inúmeras referências à obra do escritor Charles Bukowski.

Não só a temática que se assemelha, a estruturação gramatical é constantemente voltada à quebra de regras, gerando um texto amorfo que preza a liberdade para o autor e do leitor. O que obtemos disso é uma leitura ágil, fácil e bastante coloquial, que muitas vezes consegue estapear o leitor no rosto e dizer ESTÁ VENDO? VOCÊ SE IDENTIFICOU COM ISSO, NÃO FOI, SEU VAGABUNDO?!

O estilo de Magaroti é claramente mais que inspirado, é uma simulação de Bukowski. Isso pode ser recebido de duas formas. A primeira é a falta de voz do autor, o que pode ofender os de coração mais romântico e artistas por natureza, ainda que não por profissão. A segunda – que deixo claro ser a minha visão – é que, ainda que mimética, a escrita é MUITO BOA; Bukowski era autêntico e escrevia bem, então é apenas normal confirmar o mesmo de Bukowskianos. Como já falei acima, o texto é muito bem trabalho tanto em temas quanto em estilo, vai ser muito difícil um fã do autor consagrado não gostar desta obra de Murillo.

Para não dizer que não vi nada de errado na minha leitura, achei que o pessimismo e a ebriedade das histórias sempre ficavam um pouco atrás da obscenidade, que era sim um traço marcante de Bukowski, mas ele não era só isso. Talvez seja só uma questão de dosagem.

No final das contas, Bukowskianos é um excelente trabalho, notável por ser o primeiro de Murillo Magaroti. Recomendo o livro a putas e vagabundos de todos os calibres.



sábado, 6 de setembro de 2014

Impressões: Mistborn - O império final, de Brandon Sanderson


O livro de hoje pulou na frente de muitos livros da lista de leitura, devido à quantidade exorbitante de indicações e de fãs e prêmios exaltando a maravilha que é. Infelizmente ninguém dizia que o livro é um juvenil/YA, e enquanto lia, minhas expectativas eram satisfeitas e não atendidas ao mesmo tempo, deixando a minha visão do livro bem inconstante. Vamos à sinopse:

O Império Final

O que acontece se o herói da profecia falhar? Descubra em Mistborn! Certa vez, um herói apareceu para salvar o mundo. Um jovem com uma herança misteriosa, que desafiou corajosamente a escuridão que sufocava a Terra. Ele falhou. Desde então, há mil anos, o mundo é um deserto de cinzas e brumas, governado por um imperador imortal conhecido como Senhor Soberano. Todas as revoltas contra ele falharam miseravelmente. Nessa sociedade onde as pessoas são divididas em nobres e skaa – classe social inferior –, Kelsier, um ladrão bastardo, se torna a única pessoa a sobreviver e escapar da prisão brutal do Senhor Soberano, onde ele descobriu ter os poderes alomânticos de um Nascido da Bruma – uma magia misteriosa e proibida. Agora, Kelsier planeja o seu ataque mais ousado: invadir o centro do palácio para descobrir o segredo do poder do Senhor Soberano e destruí-lo. Para ter sucesso, Kel vai depender também da determinação de uma heroína improvável, uma menina de rua que precisa aprender a confiar em novos amigos e dominar seus poderes.


A trama é bastante simples e extremamente rápida, como é de se esperar num livro juvenil. Nós acompanhamos Kelsier na sua luta, em um mundo apocalíptico dominado por brumas noturnas que abrigam mistérios e criaturas medonhas, contra um império maligno dominado pelo Senhor Soberano. O imperador, além de poderoso e imortal, mantém com mãos de ferro a sua sociedade feudal, em que nobres vivem em opulência enquanto a maioria da população é escrava e tratada como escória, seja no campo ou nas regiões urbanas. Tomamos conhecimento da vida de Kelsier como golpista e de seu grupo de companheiros vigaristas, empenhados na maior de todas as empreitadas: destruir o Império Final. Apesar de contar com um narrador impessoal, o leitor basicamente lê um livro de diálogos, pois é assim que toda a história transcorre, sem muita descrição ou narrativa, que, quando acontecem, são usadas, respectivamente, na apresentação inicial do ambiente da cena em que acontecerá o diálogo; e nas passagens de batalhas.

O elemento condutor da fantasia é a alomancia, uma alquimia metabólica que permite ao seu usuário - necessariamente descendente de nobres - retirar habilidades mágicas de metais absorvidos pelo corpo, e quando digo absorvidos, falo INGERIDOS no maior estilo EAT-MAN. Cada metal alomântico possui um tipo magia e o sistema de utilização é o mesmo de jogos de rpg, gastando "mana" até que precisem ser ingeridos novamente, e a intensidade do consumo pode ser dosado ao bel prazer do alomântico, o que contribui para o maior defeito do livro: a repetição.


Existe um problema sério de escrita, a repetição de palavras e expressões é a maior que já vi em qualquer livro. QUALQUER LIVRO. Na primeira página já se percebe isso, mas o problema vai mais longe: a condução da história é bastante didática, e constantemente vemos ideias e sensações sendo re-explicadas e reforçadas desnecessariamente, mesmo para um livro juvenil, e você se pega várias vezes tendo que ler de novo o quanto Vin é desconfiada de todo maldito novo personagem que entra em cena, ou do tamanho do poder do Senhor Soberano, ou a odiosidade que é a vida dos skaa (casta de escravos). Isso tudo somado ao "empurra e puxa" (termos de alomancia) constante para descrever minuciosamente cada ação dos alomanticos, mesmo depois do leitor já ter conhecimento do que se pode ou não estar sendo feito, deixou a história extremamente longa e cansativa. Se o autor já explicou que queimar peltre dá superforça, então se alguém usa superforça, é lógico que ele está queimando peltre, não precisava indicar isso em todo fucking movimento!

Essa parte da escrita de lado, o livro se mostra bastante agradável. Os cenários são bem montados, a escrita é sensacional, sendo bem direta e simples, o que é um favor que Mistborn faz à literatura de fantasia, que ainda se apega DEMAIS à uma construção poética e elaborada, que muitas vezes até prejudica o andamento do enredo. Os personagens são poucos e bem definidos, não dá para se confundir; pela quantidade de diálogos, o leitor logo pega os traços de cada um. Por um momento o autor até dá a impressão que vai tratar de temas mais sérios, citando Deus e os conceitos de bem e mal, mas a trama gira mesmo em função da rebelião dos escravos, e durante centenas de páginas o leitor vai descobrir esperança e conformismo, luxo e miséria, trapaça e inocência em Luthadel, a capital do império.

O que gostei:
- Personagens marcantes.
- Cenários envolventes.
- Enredo cativante, com algumas reviravoltas.
- Escrita ágil, fácil de prender o leitor.

O que não gostei:
- Escrita muito prolixa, o livro caberia facilmente sem retirar fatos do enredo, em menos de 400 páginas.
- Repetição demasiada de termos e ideias.

Considerações finais:
Mistborn é uma história agradável, porém cansativa. O estilo do autor favorece a velocidade de leitura, mas em contrapartida o montante a ser lido anula essa qualidade. A revolução de Kelsier começa e termina no livro, então a leitura é válida mesmo para quem não curte trilogias/séries. Não acho que vou ler os próximos, pelo mesmo motivo que deixei de ver animes, e é isso que Mistborn é: um anime transposto para 600 longas páginas.



domingo, 31 de agosto de 2014

Impressões: Frankenstein, de Mary Shelley


O livro de hoje é um clássico da literatura de terror, que admito não estar nas minhas listas de leitura até pouco tempo atrás, mas minha atenção foi conquistada após ouvir um PODCAST SOBRE A OBRA. O livro tem um ar muito mais romântico do que normalmente se pode esperar de um livro de terror, e especificamente sobre o Monstro (conhecido na cultura pop como Frankenstein) difere bastante do gigante abobalhado com parafusos no pescoço que normalmente se vê por aí.


A história começa com uma troca de cartas entre dois irmãos, Margaret e Walton, durante uma viagem deste nas regiões gélidas do ártico. Após algumas cartas, Walton descobre Victor Frankenstein desolado no meio do gelo, em situação de saúde lastimável. O homem é resgatado e, após se recuperar, conta seu passado, desde um jovem apaixonado pelas ciências naturais até os dias de tormenta que passou depois de ter criado o horrendo Monstro, ato que se torna eterna fonte de arrependimento e agonia desde que ouviu o primeiro urro da sua criação. Embora a história foque o passado de Victor, acabamos tomando conhecimento sobre os rumos tomados pelo Monstro, e descobrimos que ele é - se torna, na verdade - um ser pensante, eloquente e bastante razoável; entretanto sua aparência horrenda o condenou viver em sofrimento e solidão.

É importante destacar o peso que a aparência tem na tragédia do Monstro e como isso gerou toda a sequência de infortúnios. O medo de alguém que é jogado numa cela com um leão provém da impotência diante da fera, diferentemente do medo de alguém que é jogado na mesma cela tomada por baratas. O Monstro podia instilar os dois tipos de medo, porém fica claro que a repulsa que sentem por ele é tão somente graças à sua aparência nojenta, ao passo que em certo momento da história, o Monstro é acolhido por uma única pessoa: um cego. Análogo à essas duas formas, Victor era assombrado por um terceiro e mais opressivo terror: o de ter condenado a humanidade à viver sob a ameaça do Monstro.

Raiva, tristeza e ocasional esperança são os traços mais fortes que senti na leitura, e todos esses sentimentos são apresentados tanto em Victor quanto no Monstro, por diferentes razões. A escrita é bastante poética, deixando o texto denso em sua maior parte e dando um ar de teatralidade às cenas. Muitos atribuem um aspecto religioso muito presente no livro, o que não me marcou tanto assim. Talvez por eu ter lido a edição de 1831, ao invés da original de 1818, algumas coisas tenham ficado de fora, mas pelo que percebi, a presença da religiosidade se dá em instâncias normais de livros clássicos - especialmente de terror - que já não é tão fácil de se implementar devido ao materialismo científico que vivemos hoje em dia.

O que gostei:
- A escrita quase teatral, ainda que três ou quatro vezes eu tenha me distraído nas divagações melodramáticas.
- Cenas bem montadas.
- Personagens convincentes e bem definidos.

O que não gostei:
- No final da história eu estava ávido para descobrir o desfecho e tinha que aturar pela enésima vez as lamúrias de Victor. Ainda que a escrita fosse boa e coesa com as passagens anteriores, eu me peguei desejando pular as ponderações tristonhas dele para continuar com os fatos seguintes.

Considerações finais:
Frankenstein foi uma experiência gostosa de se ler. Não vai dar susto em ninguém e a escrita refinada talvez diminua o terror do enredo para valorizar a tragédia vivida pelos personagens, mas ainda assim, um dos melhores materiais de terror que já li (lembrando que nunca fui entusiasta do gênero). Ironicamente eu li uma edição em inglês (não tive problema algum com o entendimento, ainda que muitas palavras e construções de época me soassem estranhas) e no livro há referência ao fato de que só aprendendo outras línguas e lendo seus autores, alguém pode se considerar verdadeiramente letrado.



quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Impressões: A faca sutil, de Philip Pullman


Dois posts em menos de 24 horas? Pois é, mas não estou maluco, apenas acumulei leituras e agora estou postando as impressões de uma vez só no blog. O livro de agora é o segundo volume de uma saga que gostei muito quando li o primeiro livro, mas cuja empolgação se esvaiu por completo após concluir a leitura da continuação: A faca sutil, da trilogia As fronteiras do universo. Vejam a sinopse abaixo.

A Faca Sutil

Neste segundo volume da trilogia Fronteiras do Universo , Will tem apenas 12 anos e tudo começa quando, depois de matar um homem, ele parte para descobrir a verdade sobre o desaparecimento de seu pai. Num passe de mágica, atravessa o ar e penetra num mundo onde conhece uma estranha garota, Lyra, que, como ele, também tem uma missão a cumprir. Em Cittàgazze, onde os dois se encontram, as ruas são habitadas por espectros letais, devoradores de almas e outras criaturas aterradoras que disputam com todas as forças um poderoso talismã, capaz de cortar o nada e abrir brechas para outros universos - a faca sutil.

Novamente, a sinopse é um resumo eficaz do livro, então não vou me dar ao trabalho de explicar muito mais do que ela já explica sobre o enredo. Após a viagem instigante de Lyra para salvar seu pai no primeiro livro, no segundo nós acompanhamos a jornada se desenrolar no nosso mundo, ou um mundo paralelo praticamente igual ao nosso. Aqui há um menino chamado Will que se torna alvo de pessoas estranhas e por uma obra do acaso acha a passagem para um outro mundo. Mundo esse que é o ponto de convergência para tudo na história, desde os personagens do livro 1, que aparentemente abandonaram o medo de explorar os mundos externos, até exploradores, cientistas e militares do nosso mundo.

Nesse mundo misterioso, Lyra e Will descobrem e tomam posse de um poderoso artefato cobiçado por todo e qualquer adulto e são "convocados" pelos pais de Lyra e Will para tomar parte num grande esquema de proporções extradimensionais, arquitetado para livrar os homens de suas amarras do destino. A trama parece interessante, e a história geral É BOA, mas a forma que se desenvolveu deixou muito a desejar. Lyra, a moleca que conseguia se virar com mentiras e traquinagens no seu mundo mágico logo percebe que no nosso mundo a malandragem de uma criança não é capaz de enganar a experiência de vida de um adulto. Essa é uma avaliação positiva da trama, pois dá mais verossimilhança, PORÉM A SOLUÇÃO PARA ISSO É QUE ACABOU COM A GRAÇA: sem poder se virar com seu talento infantil para escapada de situações indesejadas, a solução dada a Lyra pelo autor foi o uso do aletiômetro, instrumento onisciente que só responde adequadamente à menina.

No primeiro  livro o instrumento é muito bem utilizado, sendo inicialmente uma peça morta e ao longo da trama ganha importância e utilidade, mas no segundo livro Lyra já domina seu uso, o que transforma o aletiômetro num DEUS EX MACHINA constante desde o início, fazendo as vezes de "voz do escritor" para guiar a trama do jeitinho que quer, só ordenando a menina a fazer tudo necessário para o desenrolar da história. A justificativa para isso é bastante obscura: as informações adquiridas no começo são um pouco contraditórias, afinal o objetivo dos heróis é matar Deus - chamado de Autoridade - ao mesmo tempo que o aparelhinho que os guia possui conhecimento divino do passado, presente e futuro; mais para frente, após a aparição de alguns personagens e revelação de suas intenções, dá-se a entender que a consciência por trás do aletiômetro não é a Autoridade, mas sim Satanás - ou algum outro nome para determinar a entidade maligna (que no caso é a salvadora dos homens). Sendo o aletiômetro o instrumento que transporta a voz do autor para os personagens, e também a forma de Satanás organizar sua investida contra Deus, não é a toa que a Igreja Católica arrumou briga com esse livro, afinal não é só uma obra de fantasia feita por um ateu, mas sim uma clara homenagem ao capiroto.

Tretas religiosas à parte, essa automatização das ações de Lyra, comandada pelo aletiômetro, tirou muito da emoção que a história trazia no seu primeiro volume. A busca de Will pelo seu pai ajudou a aliviar a monotonia da trama e tirar a sensação de orquestramento dos eventos da história, mas não achei suficiente para salvar o livro. O que realmente me fez concluir a leitura foram as explicações dos elementos (como o significado e função da matéria escura, da faca sutil, dos anjos, dos espectros, etc), e provavelmente serão eles que me farão ler o terceiro livro da série.

O que gostei
- A escrita é fluída e leve.
- Os personagens são bem definidos e carismáticos.
- Os elementos científicos-fantásticos e suas explicações.
- O enredo, numa visão macro, é bom.

O que não gostei
- A automatização dos eventos que levam a trama para frente.
- Algumas pequenas incoerências de roteiro, como a alma humana se transformar em dimon ao entrar no mundo de Lyra, mas não voltar para o corpo quando no mundo de Will.
- O autor força a barra quando faz Lyra deduzir DO NADA que no mundo de Will os dimons (que são figuras materiais) existem numa forma espiritual dentro do corpo humano.

Considerações finais
A faca sutil foi uma decepção, levando em conta a empolgação que senti no primeiro livro. Considero que o autor manteve seu padrão constante nas qualidades, mas extrapolou absurdamente a intensidade dos defeitos que já tinha demonstrado em A bússola de ouro. Não está na minha prioridade, mas pretendo um dia ler o livro 3, só para saber aonde essa merda vai dar.







Impressões: A jornada de um herdeiro - A adaga de dois gumes, de Vanessa Nilo


A resenha de hoje é de um livro de autora independente, que tomei conhecimento nos grupos do Facebook. Estou falando de A jornada de um herdeiro - A adaga de dois gumes. Sim, o nome é longo mas o livro também, com suas trezentas e tantas páginas, então fica tudo combinando. Admito que o tempo de começar a ler ele não foi o melhor de todos, na última semana do período na universidade, e antes de terminar de ler, teve início uma leitura conjunta a qual já havia confirmado minha participação. E para completar, chegou minha viagem e só consegui terminar AJDUH em outros ares, longe de casa. Enfim, estou enrolando, vamos direto à minha opinião!!!


O livro conta a história de Arian di Lônios, desde seu nascimento até sua passagem de 17 para 18 anos, quando uma anunciada profecia começa a tomar forma nos arredores do Mar Angria. Criado pelo seu pai adotivo, o jovem toma parte em eventos sombrios que logo se aglutinam para formar uma dúvida na cabeça do rapaz: "Quem sou eu?". A resposta é dada ao leitor sem maiores mistérios, mas Arian não tem essa sorte e acaba se envolvendo em maus bocados para ter esta verdade revelada - já que ele supõe que não descobrirá através de seu pai.

O livro é sombrio. Mais do que eu imaginava que fosse. Vanessa Nilo montou um cenário rico, com bases firmes no âmbito religioso, principalmente. Há deuses e criaturas místicas na história, e cada povo possui sua cultura diferenciada, sejam eles humanos, centauros, magos, videntes ou vampiros. É, há vampiros, e eles merecem uma atenção especial... Não seguem a nova visão "emo" que se estabeleceu, mas também não são monstros de figura horripilante. Misturam a beleza e glamour aristocrático com a violência e o terror do vampiro clássico. Digo "clássico" genericamente, pois não sou conhecedor de histórias desse ramo, aliás, me considero leigo no assunto. E são eles - os vampiros - os vilões da história. Apesar de ser apenas uma parte da história, AJDUH deixou claro que tudo rodeia a profecia de quem vai exterminar os vampiros, e cada personagem - de ambos os lados da disputa - têm suas motivações para ajudar ou impedir Arian a completar seu papel.

O que gostei
-O enredo trata de mais uma jornada do herói, e é satisfatório nessa linha.
-O vocabulário da autora é extenso e bem empregado, enriquecendo o texto.
-As descrições de personagens são muito boas.
-A variedade de personagens - que são muitos - também me agradou.
-A história conseguiu juntar vários seres mágicos diferentes de maneira coerente no seu mundo.
-Os nomes dos personagens foram muito bem escolhidos, muito embora há uma repetição fonética muito grande, especialmente em parentes, o que pode dificultar a assimilação.
-Descrições de cenário são feitas detalhadamente, ajudando a montar a atmosfera sombria.


O que não gostei
-O título do livro não faz jus. Principalmente pela "adaga", que não tem significado real na progressão da trama.
-Vírgulas faltantes, excedentes e mal posicionadas são um problema crônico no livro inteiro.
-A escrita é tão densa o tempo inteiro que a leitura se torna lenta.
-Em algumas frases os tempos verbais se misturam, fazendo-se necessária uma segunda leitura.
-Adjetivos e advérbios extrapolam as descrições e INUNDAM a narração, atrasando a fluidez da história.
-Na reta final do livro surge um núcleo inteiro de novos personagens.
-Como há diversos povos e culturas, pode ser trabalhoso compreender todos sem um pouco de confusão.

Considerações finais
Apesar de achar que o livro merece uma última revisão, A jornada de um herdeiro - A faca de dois gumes ganha crédito pela história bem montada, pelo mundo fictício coerente e principalmente pelo clima que o livro passa, com uma atmosfera sombria e envolvente. Durante toda leitura não pude deixar de pensar que o livro tinha inspiração no RPG VAMPIRO: A MÁSCARA, justamente pelo climão tenebroso, mas conversei com a autora e ela me disse que na verdade se inspirou em Bram Stocker e Sheridan le Fanu - esse último eu não conhecia, para vocês verem meu conhecimento na literatura vampiresca. Vanessa Nilo me proporcionou bons momentos de leitura, especialmente quando eu colocava algo para ouvir junto, como a música abaixo.






terça-feira, 22 de julho de 2014

Próximas leituras, segundo semestre de 2014


Terminei de ler A Jornada de um Herdeiro - A adaga de dois gumes, da Vanessa Nilo; nos próximos dias postarei minha opinião sobre ele. Enquanto o lia, iniciei A faca sutil e Mistborn. Por enquanto sem opinião formada sobre eles, mas estou achando que A faca sutil não será tão bom quanto A bússola de ouro.

Espero gostar dos livros desse semestre, e de algum jeito, terminar todos (incluindo os 2 que ainda não escolhi), a tempo para ler mais uns 2 ou 3.







sexta-feira, 27 de junho de 2014

Impressões: A senhoria, de Roald Dahl


A senhoria é um conto policial que narra a chegada de Billy Weaver à cidade de Bath, na Inglaterra. Sem conhecer a cidadezinha, e chegando tarde da noite, ele resolve seguir a recomendação de um cidadão local e se hospedar no hotel próximo. Enquanto ele segue para o referido hotel, se depara com uma pensão aparentemente comum e pacata, mas que exercia sobre ele uma atração inexplicável. Imbuído de uma vontade quase inconsciente, ele resolve se hospedar naquele lugar.


O que gostei:
- A naturalidade da escrita é algo fantástico. Simples, direta e certeira.
- As descrições fazem muito bem o seu papel. Tanto a ambientação quanto os personagens se tornam bem familiares para o leitor rapidamente.
- O talento para desenvolver a ideia central na cabeça do leitor sem explicitar os fatos é notável. 

O que não gostei:
- Nada.

Considerações finais:
É difícil falar mais sobre um conto tão curto, mas A senhoria merece uma indicação reforçada, pois premia o leitor com uma escrita leve, um desenvolvimento rápido e uma trama intrigante, que deixará ao leitor, após os 10 minutos de leitura, um desejo de "quero mais".




terça-feira, 17 de junho de 2014

Impressões: Revista Trasgo #2


A leitura da Revista Trasgo 2 foi concluída já faz um bom tempo, mas por motivos diversos, acabei não fazendo meu comentário aqui. Ontem descobri pelo facebook que a edição 3 já está disponível, e isso me lembrou de vir aqui e tecer minha opinião sobre a segunda edição. Vou seguir o modelo do post que fiz para falar da REVISTA TRASGO #1, me atendo a tecer um breve comentário sobre cada conto. Fico feliz de saber que a iniciativa está dando certo e rendendo mais edições.

Trasgo #02

A revista começa com Rosas, da Ana Lúcia Merege, e devo dizer que colocá-lo como primeiro foi uma bela escolha do editor, pois foi só eu terminar de ler o conto e parti avidamente para os seguintes, de tão empolgado com a qualidade. É uma história simples e com final imprevisível; demonstra que a autora domina uma sutileza na escrita bastante incomum. Não bastasse isto para recomendar, a composição do texto e linguagem são fenomenais, feito para todo tipo de público. RECOMENDADÍSSIMO.

O conto seguinte é Cinco Bilhões, de Victor Oliveira de Faria. É um conto de ficção científica passado num mundo, supostamente no fim da sua vida, dominado por máquinas - orgânicas ou não - conscientes que buscam uma maneira de salvar a estrela que ilumina o planeta ou criar um jeito de levar a população para um planeta diferente. Eu sempre torço o nariz para histórias de viagens no tempo, mas o autor não inventou maiores estripulias e se ateve a criar uma história coerente com o paradoxo temporal, o que achei muito bom.

Hamlet: Weird Pop é o conto de  Jim Anotsu, e trata de um diálogo sobre a realização de uma peça teatral baseada em Hamlet, entre a mente idealizadora do espetáculo e um "advogado" do além, que surge para impedir que aquilo ocorra. A linguagem é bem trabalhada - e quase rebuscada - mas não atrapalha o entendimento do texto; o que complica mesmo é a quantidade de referências utilizadas pelo autor, que não se resumem só a Shakespeare. Não peguei algumas - ou várias, não lembro tão bem - e acredito que o conto não será tão bem apreciado por quem não tem essa carga cultural para fazer as relações necessárias.

Código Fonte, de George Amaral, nos oferece uma literatura de muito bom gosto. Uma trama sobre confusão de identidade, com um quê de suspense e linguagem rápida (o texto é curto, inclusive). Uma ficção de qualidade excepcional, que - não sei dizer a razão - me lembra muito H.P. Lovecraft.

A maldição das borboletas negras é o penúltimo conto, escrito por Albarus Andreos. O conto possui uma escrita agradável e poética, de um esmero singular. Infelizmente é algo que canibalizou a minha leitura; o estilo foi algo tão marcante, que a história em si não prende e confesso que foi o único conto que precisei reler para escrever esse post, pois não me lembrava de NADA do conto.

O homem atômico encerra a revista, com a escrita leve de Cristina Lasaitis. Com uma escrita intermediária entre um artigo de jornal e um causo ouvido em meio a um passeio na feira, a autora nos apresenta, de forma até familiar, a história de um lunático de rua que cativa a comunidade local com suas histórias de conspiração e ciência no regime militar (sim, é um conto urbano passado no Brasil!!!). Uma boa escolha para fechar a edição número 2.




segunda-feira, 16 de junho de 2014

Impressões: A bússola de ouro, de Philip Pullman


Enrolei bastante para começar a ler A bússola de ouro, exatamente pelo mesmo motivo que sempre apresento para adiar as leituras de fantasia: se tratar de uma série. Pois o adiamento teve seu papel, mas uma hora ele precisava acabar, né? E finalmente pude iniciar a aventura  criada por Philip Pullman. Depois da sinopse, fica meu comentário sobre o primeiro livro da trilogia As Fronteiras do Universo.


A Bússola de Ouro

Quando Roger, amigo de Lyra, desaparece, ela e seu daemon, Pantalaimon, resolvem procurá-lo. Viajam para os reinos frios do Norte, onde urso de armadura e bruxas-rainhas voam pelos céus congelados.
Lyra possui um aparelho que auxiliará na missão - caso ela consiga decifrar suas mensagens misteriosas. Mas o equipamento contém segredos assustadores sobre a viagem e os perigos que os esperam em mundos distantes.

Esta sinopse é exageradamente vaga, mas a informação contida nela é verdadeira. Começamos a aventura conhecendo Lyra e Pantalaimon, seu dimon - uma materialização espiritual na forma de diversos animais - na Universidade de Oxford. Descobrimos que é uma garota esperta, levada e curiosa, e numa de suas travessuras acaba tomando parte de uma caçada onde o misterioso aletiômetro, e talvez ela mesma, em dado momento da história,  se tornam o alvo de cobiça por sujeitos proeminentes da política mundial.

O livro nos mostra a corrida de Lyra para entregar o objeto a salvo para seu tio no pólo norte, e desenvolve a trama mediante às descobertas feitas pelo meio do caminho, envolvendo ciganos, bruxas e uma raça de ursos humanóides guerreiros. A história não se conclui, ficando para o final um novo início,obviamente que só será visto no volume 2 da trilogia.

O que gostei:
- A escrita do autor é bastante fluída, e o vocabulário sem rebuscamento ajuda na velocidade de leitura.
- Os personagens são bem definidos, e a trama segue com bastante naturalidade.
- As poucas diferenças entre o mundo fantástico e o nosso mundo são apresentadas pelo narrador impessoal ou por diálogos na trama, e sempre que algo precisa ser lembrado, há uma menção, facilitando o entendimento para leitores mais novos.

O que não gostei:
- Algumas cenas são exageradamente rápidas, enquanto outras se alongam mais que o normal (apesar de não ao ponto de ser algo arrastado), deixando o ritmo muito irregular.
- Lyra possui a síndrome do Batman, que força o escritor, para evidenciar a esperteza dela, a deixar os outros personagens inexplicavelmente burros ou no mínimo inocentes.
- Após a chegada ao centro de pesquisa (cerca de 60% do livro), o enredo se recheia de inúmeras coincidências meticulosamente colocadas na trama para fazer o caminho de Lyra se abrir à frente dela. Sendo um livro infantil, isso até pode ser relevado, mas chegou uma hora em que eu parei e disse: OK, JÁ SÃO COINCIDÊNCIAS DEMAIS!!! E mesmo assim elas continuavam a ocorrer. =(

Considerações finais:
Lido sob olhos despretensiosos, A bússola dourada é uma obra espetacular, de linguagem leve e enredo rápido, capaz de cativar qualquer tipo de leitor. Há um fundo de pesquisa científica e crítica à instituições religiosas, mas que não fazem muito sentido, dada a pouca atenção que a trama lhe reserva. O livro é bom, mas como previsto, não pode ser lido e concluído sem o(s) próximo(s) volume(s).




sábado, 17 de maio de 2014

Impressões: O processo, de Franz Kafka


Voltando a uma opinião sobre um clássico, pois nem só de best seller ou independente se faz minha lista de leitura. E o livro da vez é O Processo do famosão Kafka, cujos livros eu não conhecia até então. Li a edição da Companhia de Bolso, traduzida por Modesto Carone, que aliás, merece os parabéns, gostei muito do trabalho que ele fez. Sem delongas, vamos à sinopse.



'Alguém certamente havia caluniado Josef K. pois uma manhã ele foi detido sem ter feito mal algum.' Assim começa um dos maiores romances do século XX. E começa também o drama do protagonista de 'O processo', que luta do começo ao fim para descobrir do que é acusado, quem o acusa e com base em que lei. Josef K. sempre confrontará a impossibilidade de escolher um caminho que lhe pareça sensato ou lógico, pois o processo de que é vítima segue leis próprias, as leis do arbítrio. O labirinto exemplarmente 'kafkiano' do qual Josef K. tentará se desvencilhar traduz um sentimento que nos diz muito - o de que a razão pode pouco contra a banalidade da violência irracional.

Bom, como eu não conhecia nada do Kafka, a leitura foi uma verdadeira descoberta, e em sua maioria, positiva. O começo é truncado, e demorei para me acostumar com as passagens de longos parágrafos - certas divagações chegam a se estender por 2 páginas até alcançar o ponto parágrafo - mas assim que me acostumei com a linguagem, o livro se tornou deveras interessante. A história é contada por cenas separadas, e apesar de eu não ter achado isto tão estranho, fui bisbilhotar o posfácio e descobri que o livro sequer está terminado. Sim, o autor morreu antes de terminar a obra, e ela foi montada pelos escritos dele; não tenho nada contra, inclusive gostei do livro, mas podia estar evidenciado na sinopse, ou com alguma nota nas primeiras páginas.

Continuando: o livro destaca algumas cenas de Joseph K., procurador de um banco que se vê detido e descobre que é alvo de um processo, de natureza desconhecida, e que mesmo assim é levado em altas instâncias de uma estrutura judiciária obscura e curiosa. O livro, mesmo não completado, possui um fim, e ainda que a falta de certas passagens tenham deixado a história sem pé nem cabeça, o que vale mesmo é a crítica do autor à burocracia e uma boa dose de realismo intrincado em situações bizarramente fantasiosas, que acabam sendo muito divertidas, especialmente pela caracterização primorosa que Kafka dá aos personagens. Não é um livro para qualquer um e é muito recomendado para estudos literários, mas ainda sim eu consegui me entreter com a história, mesmo não tendo a bagagem teórica para captar tantas críticas escondidas - no entanto tomei conhecimento das mesmas lendo o já mencionado posfácio.

O que gostei:

Caracterização de personagens
Linguagem bastante singular, mas que se torna fácil sem muito esforço

O que não gostei:

Faltaram as partes que o autor não escreveu =P
As longas sentenças podem se tornar confusas, uma vez ou outra

Considerações finais:

O livro não é longo, e mesmo com bastante simbolismo, a história é interessante. A leitura se torna surpreendentemente rápida, apesar do estilo verborrágico, especialmente nos diálogos, e a personalidade de K. é sã o suficiente para segurar o leitor no mundo de loucuras que é palco de O Processo.




quinta-feira, 1 de maio de 2014

Impressões: A fantástica história do Mundo de Bhardo - Octoforte e os Objetos Supremos, de L T R Stocco



Sinopse:

Os sete se dividem. Na companhia da enigmática Caçadora, Márcio, Pablo, Yoná e Diana cruzarão as terras sul do Continente Maior sob uma tempestade que nunca cessa e enfrentarão os perigos de uma ruína antiga em busca do tesouro que procuram. Ao memso tempo, Dominique e Shenu, guiados por Jadhe, rumam para a gelada Terra dos Cristais, mas precisarão cruzar o Oceano Vermelho para chegar até lá, mas essa viagem guarda muitos mistérios, pois Jadhe parece saber muito mais do que está disposta a contar. E, se não bastassem os perigos da própria busca, Zebarãn agora sabe quem eles são e parece poder adivinhar cada passo das sentinelas. Conseguirão os jovens conquistar as joias perdidas? Serão capazes de escapar das armadilhas lançadas contra eles? Chegarão na ilha Agerta a tempo de proteger seus amigos das artimanhas do terrível rei? Não perca a emocionante conclusão de “Octoforte e os Objetos Supremos”, uma aventura fantástica que vai te tirar o fôlego!

Cá estou para opinar sobre a segunda parte do romance de fantasia da Lívia Stocco. A primeira parte da história já teve um post aqui no blog, confira CLICANDO AQUI. O livro retoma a história exatamente de onde havia parado, sem retrospectiva ou resumo dos acontecimentos da Parte I. Devo dizer que essa decisão me deixou apreensivo com a leitura, pois eu li o primeiro logo que saiu, há um ano, e já passava pela minha cabeça a possibilidade de ficar boiando na história por não lembrar dos fatos. Ledo engano, a história segue firme  e dá algumas dicas que fazem recordar instantaneamente o enredo do primeiro livro, bem como das personagens e suas particularidades. Isto me fez perceber que o trabalho de caracterização da autora no primeiro livro foi ainda melhor que o imaginado, pois eu sou bastante esquecido, mas ainda sim ela contou a história de um jeito que ficou tudo gravado na mente, mesmo que adormecido. Bastava uma frase remetendo a uma cena do outro livro, e eu lembrava de tudo. As várias personagens, da mesma forma; cada uma tão bem definida, que não tive problemas em me sentir próximo a elas, mesmo um ano depois (só os irmãos Pablo e Márcio que eu me confundia um pouco, talvez por eles serem "os normais" da história).

A história continua simples, direta e divertida. Os heróis continuam sua busca pelos objetos supremos, e retornam para abrir o portal de volta para casa. Não há muito o que dizer sobre a trama; é uma genuína história de aventura, muito bem contada, por sinal. Os perigos se alternavam entre o percurso da jornada e a perseguição de Zebarãn, o vilão do mundo de Bhardo, que infelizmente não apareceu tanto quanto eu esperava. O sentimento que fica é que Bhardo é muito vasto e independente, e mesmo acompanhando a viagem específica dos guardiões de Octoforte, há outras coisas rolando e que não aparecem no livro. Particularmente eu acho isso fantástico, mas há muita gente que pode achar ruim - ou desnecessário - esse estilo de contar histórias. Da minha parte, eu não mudaria, só colocaria uma cena a mais com Zebarãn ou Macrux, este último servindo apenas como alegoria e sem real propósito.

O que gostei:

Desenvolvimento de personagens muito claro e bem planejado.
Escrita rápida e concisa.
Diálogos bem construídos.
Sensação de "mundo maior que a história".

O que não gostei:

As descrições, algumas poucas vezes, ficava embaralhada, escrita com uma pressa desnecessária.
Falta de desenvolvimento de Zebarãn, Macrux e, um pouco, da Caçadora.
Alguns erros de digitação e posicionamento de vírgulas me incomodaram.

Considerações finais:

Um ano após ter sido iniciada, minha jornada por Bhardo terminou. Fiquei muito feliz de acompanhar essa história, especialmente por ser a estréia de uma autora brasileira. Lívia Stocco mostrou ter talento e criatividade, de forma que eu recomendo A fantástica história do Mundo de Bhardo a TODOS, em especial às crianças, que são o público-alvo. Adolescentes também, mas hoje em dia eles preferem ler obras adultas, mesmo sem a maturidade para entendê-los completamente. Me decepciona um pouco saber da dificuldade de um bom livro como este ser lançado oficialmente, precisando do esforço independente e da boa vontade de alguns poucos leitores para ter sua mensagem divulgada. Gostaria muito que alguma editora atentasse para esta obra em especial; os poucos ajustes que ela necessita podem ser dados por qualquer editor competente. Os pequenos leitores do Brasil agradecerão.



quarta-feira, 30 de abril de 2014

Próximas leituras...


Acabei de finalizar A fantástica história do Mundo de Bhardo - Parte 2 e amanhã devo postar minha opinião sobre o livro. Agora nesta noite fria venho só deixar o registro das minhas próximas leituras, na ordem que pretendo seguir:






Revista Trasgo #2 (já li dois contos); O processo, Franz Kafka; 
A bússola de ouro, Philip Pullman; A jornada de um herdeiro, Vanessa Nilo.


É isso!

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Personagens favoritos - OHSS


Conversando com um leitor do meu livro, finalmente cheguei no momento de responder a uma questão que há tempos eu sabia que precisaria responder, caso  chegasse ao ponto de publicar o meu livro: qual é o meu personagem favorito? Resolvi deixar minha resposta registrada aqui no blog, bem como deixar algumas  melodias que, na minha cabeça, representam tais personagens. É bastante complicado escolher um personagem dentre as dezenas que aparecem em O homem sem signo, mas não dá para negar que eu tenho minhas preferências. Do meu trio predileto, acho que não é muito difícil para mim respirar fundo e dizer com convicção:


Amadeu! 
Além de ser um dos personagens com maior desenvolvimento, Amadeu é naturalmente carismático, o que o faz ser o preferido não só dos leitores como também de alguns personagens do livro. O cavaleiro valente que luta utilizando habilidades extraordinárias e representa o signo de Câncer é o meu personagem favorito, e abaixo deixo uma música que me lembra ele.




Em segundo lugar, é minha personagem feminina predileta, Água-Marinha. Essa escolha foi meio difícil, pois eu sou muito afeiçoado a outra personagem feminina; gosto DEMAIS da independência de Alba, mas a promiscuidade dela não me desce, então o posto vai para a corajosa Água-Marinha. Mesmo tendo se casado por motivações políticas, ela conseguiu achar uma casa feliz, mesmo longe do seu povo; e essa característica familiar é muito presente, principalmente quando ela interage com seu filho. Trocar algo parecido com uma liberdade plena para ter a vida que levou, pode não ter sido a decisão mais correta numa busca para felicidade pessoal, mas ao meu ver, ela se saiu muito bem com o que conseguiu. Realmente, escrever Água-Marinha foi um desafio para mim, e o resultado eu achei muito adequado. Abaixo uma música que me faz lembrar da situação dela no livro.



Para finalizar, o filho de Áries, o grande Yozien! O velho bruxo tem uma das participações que mais me emocionam, sempre que leio, me encho de orgulho. Mas não é só pelo que ele fez na história, a construção do grande guerreiro foi baseada num valor que me deixa realmente comovido, que é a ideia do sacrifício. Toda a história dele foi montada em cima dessa temática, e ele possui um dos backgrounds mais emblemáticos do livro, que exalta essa nobreza de caráter do poderoso mago. Abaixo, uma música que me lembra Yozien (acho até que ouvia durante a escrita).




Eu e minhas histórias tristes


A saga literária que estou prestes a contar não tem nada de fantasioso, aconteceu de verdade, comigo e durante as últimas semanas. Estou falando da minha busca incessante para lembrar o nome e a origem do conto OLALLA, do Robert Louis Stevenson.


Tudo começou comigo tomando banho, momento do dia em que minha cabeça mais viaja entre coisas sérias, corriqueiras e além. Lembrei de um tal conto que me marcou bastante, mas não lembrava o nome nem onde tinha lido. A sensação de perda foi grande, pois naquele conto eu havia encontrado uma história que realmente me tocava, de um jeito muito depressivo. Quem já leu algum dos meus escritos sabe que sou fã de histórias melancólicas, ou quando não chega a tanto, prefiro ao menos não deixar que tenha um final feliz. ENFIM, tomado pelo sentimento de nostalgia, comecei a relembrar nos dias seguintes tudo que pude sobre o tal conto. Até peguei uma página de um bloquinho e comecei a escrever coisas aleatórias da história, buscando no fundo da minha mente o local aonde poderia reler tal obra magnífica.


Não vou transcrever o que está no papel por motivos de preguiça mesmo, e porque EU ENTENDO MEUS GARRANCHOS. Como esse blog é mais pessoal que para um público-alvo, eu entender basta! Continuando, no fim da nota eu escrevi que o nome da mulher começava com "A", e que devia ser o nome do conto. Bom, eu quase acertei, mas a vogal na verdade era "O".

Lembrando que eu já havia presenciado essa vontade de releitura uns 4 meses antes, sem sucesso de achar o tal conto, resolvi apelar para o histórico da internet. Eis que o maravilhoso google me presenteia com minha antiga busca, que me levou ao nome correto, Olalla, e seu autor, o Stevenson. Quando descobri isso me senti muito tapado, pois eu tenho o conto aqui no meu Kindle, numa coletânea do autor, e passei SEMANAS folheando índices de livros de contos que tenho e indo até no skoob para perguntar se alguém conhecia uma história com tais características. Eu jurava que era escrito pela Carson McCullers, talvez por ela também só escrever sobre coisas tristes.

Final da história: redescobri o conto e está na minha fila de releituras, que até agora só tem UM LIVRO. Sim, eu não costumo reler nada, mas Olalla será a exceção. Quem estiver lendo este post, procure na internet, deve ter muito fácil, RECOMENDO DEMAIS (especialmente se você é admirador do lado escuro das emoções, como eu).

PS: Para quem quiser decifrar minhas anotações, basta ampliar a imagem abrindo ela em outra aba.



sábado, 29 de março de 2014

Impressões: Horror em gotas, de Karen Alvares

O texto de hoje é sobre um livro de contos, Horror em gotas, da Karen Alvares. Não é o primeiro trabalho da autora mencionado no blog, um tempo atrás li e postei minha opinião sobre Noites negras de natal, mais uma coletânea de contos de terror. Admito que não queria fazer esse post do jeito tradicional, enumerando os pontos positivos e negativos, até porque este ebook é muito diferente das outras coisas que li aqui. São MUITOS contos diferentes, com temas diversos e qualidade variável, obviamente. Sendo assim, vou deixar um comentário geral do ebook, sem apontar esse ou aquele conto em especial, e no fim, enumerarei os contos que achei bons, normais e ruins. Acho que vou fazer o mesmo quando finalmente terminar de ler a coletânea H. P. Lovecraft, que por sinal é bastante parecido com o livro do post de hoje. 






“Vou lhe contar uma história, mas você tem que prometer não contar a ninguém. Queime esses papéis.”

Horror em Gotas reúne 30 contos de terror, uma gota por dia, um pesadelo por noite, para que você sinta o horror desses personagens na própria pele. Tranque as portas. Apague as luzes. Não olhe para trás. O medo está à espreita e o seu tempo está acabando. Tique. Taque.

Horror em gotas é uma coletânea de contos de terror - gênero que parece ser a especialidade da autora - notável pela sua diversidade. Em meio aos 30 contos presentes, o leitor vai encontrar desde narrativas sobrenaturais e contos de dark fantasy a crônicas de suspense, o que eu achei bem coerente por parte da autora, que já tem seu nome em diversas publicações nesses gêneros. Ela sabe que é boa nisso e foca sua produção nesse público, uma atitude sábia, que implica crescimento e melhoria na escrita.

Uma coisa que percebi lendo Lovecraft, é que eu não me assusto com literatura de horror. Gosto da tensão, e observo mais a escrita e a criatividade no texto, que propriamente nos momentos de impacto, e para a minha felicidade, Horror em gotas tem uma boa quantidade de contos com essa pegada menos explícita e mais psicológica. Ao terminar o livro, o que senti é que a autora fez um bom trabalho, tanto na escrita quando na edição - um livro com tantos contos ficaria complicado de se ler no Kindle sem um índice ativo, e felizmente Horror em gotas tem um - e consegue entreter os entusiastas de terror, sejam eles adeptos à literatura visceral, tensão psicológica ou até os vidrados em tramas abstratas, confesso que simpatizo bastante com essas narrativas que exploram além da lógica e da racionalidade. Abaixo vou fazer a lista dos contos, com os que gostei em azul e os que não gostei em vermelho.


Dona aranha +++
Monstro +
O perfume da morte
A estrada
Focinho de porco
Até o fim +++
Tique taque
Céu de diamante
O filho maldito +++
A confissão ++
O sorriso +++

Azul
Na estrada da vida
Você é um demônio
O celular
Doze
Um homem sem rosto
Vermelho vivo e  morto
Experimental
Frequência infernal
A caixa mágica
No final do túnel
Sufocando
O silenciador
Homem três

Reino da morte - -
Game over
O túnel
Invisível (Gostei deste conto, mas não vi terror nele)
Grito sufocado - - -


Considerações finais: O livro, como toda coletânea, tem seus altos e baixos. E devo dizer que  há contos da Karen Alvares que são melhores que as leituras que fiz do Stephen King. Nos últimos meses li alguns livros dele, e sabendo que ela é fã do SK, devo dizer que essa massagem no ego foi merecida. Parabéns, Karen.