segunda-feira, 25 de abril de 2016

Abandono e desistências


Post só para registrar o que deixarei de ler e o livro que larguei em 50%.



O que abandonei foi A luneta âmbar, de Philip Pullman. A leitura não estava agradável, muita coisa sendo jogada e inventada do zero, apesar de ser a sequência que pretendia encerrar a trajetória de Lyra. Tive uma decepção também com Iorek, que perdeu sua fúria viking, seu comprometimento espartano pela lei do mais forte, e virou um personagem precavido ao ponto de demonstrar covardia. Gostaria muito de chegar até o final para conferir a tal crítica à ICAR, mas a narrativa não me permitiu. O livro deve ser herético só pela menção a Deus ser explícita, já que há umas controvérsias tanto escolásticas quanto metafísicas (exemplo: a associação do pecado a um pó cósmico e a concepção de que o corpo físico seria mais forte que o espiritual, respectivamente); ou então por ser um livro destinado ao público infantil, então "qualquer perigo vira um grande perigo". Não sei e não vou descobrir, pois a vontade de ir até o fim ACABOU. Há boatos de uma série chegando, então espero que siga os livros, assim saberei certinho o motivo do debate sobre a religião.


As minhas desistências se devem à temática dos livros. Estou saturado e chateado com as coisas que tenho lido, mesmo as boas, pois tudo gira sobre temas ruins, coisas depressivas ou apenas mensagens desanimadoras. Eu quero mudar isso e vou priorizar leituras inspiradoras, com temas positivos. Vou terminar Deuses esquecidos do Eduardo Kasse, mas depois dele, só vou ler obras que façam um pouco mais feliz. Infelizmente, a maioria das obras que estavam na sequência de leitura são de autores brasileiros, e vou acabar deixando eles de lado, mas FAZER O QUÊ? (De qualquer jeito, já comprei estes ebooks, então possa ser que no futuro eu venha a lê-los).


   

  






sábado, 9 de abril de 2016

Impressões: Sentimentos à flor da pele


O livro de hoje é uma coletânea de contos financiada coletivamente. Reúne alguns dos principais nomes da podosfera literária, com cada um tomando um sentimento como tema para contar sua história. Apoiei o projeto, mas minha contribuição maior acho que vem agora, depois da capa e sinopse.



Acostumados a discutir literatura, 10 podcasters literários – dos programas 30:MIN, CabulosoCast, LivroCast, LiterárioCast e Drone Saltitante – tiveram de escolher sentimentos e transformá-los em personagens dominantes de seus contos. O resultado é um livro pequeno, mas como dito em uma frase de Sandman: “Algumas coisas são grandes demais para serem vistas. Algumas emoções enormes demais para serem sentidas".



Aquele terno maldito e aquele maldito gato, de Anna Schermak narra a prisão e escapada de uma mulher das mãos de traficantes de mulheres. O ritmo é acelerado e a narrativa gruda rápida no leitor, com excelentes descrições materiais e psicológicas. O refinamento da escrita flutua ao longo dos parágrafos, com frases muito bem pensadas, e outras sem relevo algum, mas no geral, por conta da sensação de perigo que a escrita passa,  essas não geram desinteresse. Atentei para alguns sentimentos de esperança e vingança, mas no geral, o pujante na história é o medo, e acredito que ele tenha sido tema do conto. Há uma analogia muito inteligente na história, que acaba perdendo sua força por conta de uma frase próximo ao fim, tirando uma característica interessante do conto.


O bosque da depressão, de Andrey Lehnemann fala sobre um bosque através de metáforas, analogias esquisitas e referências no mínimo confusas. O vocabulário é amplo, porém usado de forma solta, sem enriquecer a a estrutura atrapalhada da narrativa, e dá a impressão de ser fruto de uma busca em um dicionário de sinônimos, em vez de usado para fortalecer contexto. Admito que cheguei ao fim sem ter ideia de que sentimento devia ter sentido ao ler, até que "solidão" foi citado, e me pareceu algo que se encaixaria. Em apreciadores de poesia, talvez, esse conto possa gerar algum vínculo, mas não me agradou.


Existe amor na rua Paiquerê, de Cecília Garcia Marcon narra o relato de um mendigo pintor que se apaixonou por uma transeunte. A narrativa é inteligente, prazerosa, sem espaços para o leitor se distrair com outras coisas. O amor platônico do mendigo, mesmo exagerado, é de uma construção impecável. Apesar do mistério apresentado ao final, o conto segue uma linha tão natural que eu sou obrigado a dizer que Existe amor na rua Paiquerê é uma crônica perfeita.

Mais uma bomba caiu no meu jardim, de Domenica Mendes apresenta o dia-a-dia de uma mãe num mundo distópico (ou quase lá). Os elementos de construção de cenário são os pontos fortes: os termos são genéricos, o que é uma escolha acertada para um conto curto, e sinalizam para o leitor que há algo além do que é visto nas cenas descritas. Cheguei à última página completamente perdido sobre o tema do conto, pois a história não me passou sentimento algum (pelo contrário, percebi a ausência de sentimentos), e na última página a citação da "apatia" me abriu os olhos. Ela é a minha aposta para o tema. Acho difícil não ser isso, pois há uma cena muito apelativa no conto, e a única explicação do que segue à cena, é a apatia da personagem principal.

Sua herança, de Igor Rodrigues, começa com uma frase memorável. Discutindo relações de fidelidade, amor próprio e decepção raivosa, o conto tem diálogos fortes e uma trama sem grandes atrativos, porém simples e coerente, até certo ponto. Uma súbita mudança de comportamento motivada por ódio não convence, e a aparição de um personagem foi tão jogada na trama que tirou todo o sentido da leitura; impressionou a protagonista, sim, mas muito mais o leitor, que se decepciona com o desleixo de como a situação foi montada. Há também alguns erros de digitação que passaram na revisão, e uns equívocos com as vírgulas. O tema me pareceu ser o ódio, mas ele também não convence.

O grande duelo, de Jefferson Figueiredo, é mais uma história de vingança, dessa vez sobre um homem que decide matar o ex-amigo por conta de uma mulher do passado. A escrita é fluída e a história não desestimula o leitor, mas não enxerguei atrativos. Há diversas referências ao cinema de faroeste, e os entusiastas podem ver algo mais no conto, mas não creio que vá acelerar o coração de ninguém. Há uma pegada de noir em alguns parágrafos,  porém tudo que disse aqui foram observações avulsas, de elementos que não integram o todo da história, de forma que eu terminei sem fazer a mínima ideia de qual foi o tema selecionado pelo autor na hora de escrever. Não é ruim, mas é bastante esquecível.

N. A. (Nostálgicos Anônimos), de Lucas Rafael Ferraz, é um conto de mistério. Um esquisito grupo de apoio serve de porta de entrada para conhecermos um pouco sobre Vitória e sua luta com um trauma antigo e persistente. O background é intencionalmente deixado de lado, e o leitor precisa se apegar à aflição de da personagem quanto a um evento até simples, mas que consegue prender a atenção e estimular a curiosidade. Parabéns ao autor por conseguir tanto mostrando tão pouco, é um mérito difícil de ser alcançado. O sentimento-tema, apesar de não ser escancarado no enredo, só pode ser a nostalgia mencionada no título, e faz todo o sentido.

Onde não deveria estar, de Marcelo F. Zaniolo, usa uma narrativa rápida e gostosa de se ler para contar a superação de um menino contra seus medos. A história narra um causo, praticamente, haja visto que tudo começa e termina em poucos minutos. A natureza do medo do garoto é boba e difícil de acreditar; chegou a me causar estranheza, mas acabei aceitando após concluir que se trata de um conto infantil - e só cheguei a essa resolução após terminar e pensar sobre o que tinha acabado de ler, de maneira alguma a escrita ou a situação geral é infantilizada.

Ratos em sangue, de Mateus Lins possui o estilo de escrita mais distinto do livro, o que não impediu o defeito do excesso de permear, de maneira grave, o texto do início ao fim. O enredo não tem propósito até o último ou penúltimo parágrafo do conto, e quando aparece, não chega a convencer. As coisas são jogadas, os elementos não se encaixam, o conto realmente não brilha pelo que está contando. É o tipo de texto que impressiona pela maneira que transmite as ideias, por meio da narração e da descrição, e é por isso - pelo traquejo com a palavra escrita - que parabenizo o autor. Não vislumbrei o sentimento-tema.

Peixe fora d'água, de Vilto Reis, começa com a irritante narrativa no presente para contar a velha história do filho contra o pai autoritário, que para fechar o estereótipo, é um cristão fervoroso e irredutível (se captei bem, é testemunha de Jeová). A escrita possui um tom coloquial muito forte, e a narrativa passa longe de ser convencional, o que não necessariamente é ruim - é quase como um retrato contemporâneo dos textos curtos em português. O tema parece ser algo como submissão/opressão.


Antes de encerrar o post, vou deixar a relação dos sentimentos utilizados pelos autores para construir os contos (eles são revelados ao fim do livro). Os que estão em negrito e itálico são os que eu acertei. Respectivamente: solidão, depressão, obsessão, apatia, raiva, ódio, nostalgia, medo, escapismo, poder.




domingo, 3 de abril de 2016

Impressões: Horror na colina de Darrington, de M. V. Barcelos


Recebi o livro autografado e acompanhado de um material espetacular de divulgação, o que me deixou com uma ótima impressão inicial. Minha opinião sobre o romance de estreia de M. V. Barcelos vem logo abaixo da sinopse:


Horror na Colina de Darrington


Você acredita em fantasmas? Ben Simons é um rapaz órfão de 17 anos que vai para a casa dos tios ajudar a cuidar de sua priminha Carla após a tia ter sofrido um derrame. Apesar da infeliz situação de tia Julia, Benjamin esperava que a Colina de Darrington fosse um lugar de certa tranquilidade. O que encontra, porém, é uma trama de terror e sangue, cujo único propósito é a conquista de um poder absoluto e inimaginável por meio de forças malignas. A casa esconde segredos terríveis e sombrios. Conheça os caminhos mais tortuosos da mente humana e descubra até que ponto alguém chega para salvar a vida de um ente querido neste intrigante amálgama de suspense e terror sobrenatural. Onde termina o inferno e começa a realidade? Junte as peças e descubra. Sem dúvidas, esta é uma história para aqueles que não têm medo do escuro e de todo o mal que nele habita.


Horror na colina de Darrington é uma novela de poucas páginas e enredo intenso, feita na medida certa para ser lida de uma vez só. A narrativa em primeira pessoa, quase epistolar, se alterna em alguns momentos com matérias de jornais, relatórios policiais e até transcrições de documentário, fazendo da história uma espécie de quebra-cabeças, um mistério policial a ser desvendado. Particularmente essa é um estrutura de enredo que gosto muito, e aqui só abrilhantou o suspense do livro, seu ponto mais forte. A confusão de Ben, ao se dar conta de fenômenos sobrenaturais e dos presságios que eles anunciam, é crível e a identificação com o personagem é quase imediata, apesar do pouco que sabemos dele. E da mesma maneira, sem muitos aprofundamentos em passado (ou mesmo características físicas), é possível formar a imagem de cada um dos personagens na trama.

O número reduzido de pessoas ajuda, mas é o papel de cada um na história que define o perfil e fixa sua imagem na cabeça do leitor, e não digo isso à toa: cada evento que ocorre é um choque, um degrau de escadaria para que possamos saciar nossa vontade de ver o desfecho. Não há espaço para tergiversar, e essa concisão foi um dos pontos altos do livro. A narrativa é direta, os cenários são poucos e são poucos agentes, mas as informações são muitas, abalando a descrença de Ben e levando-o numa sequência de escolhas difíceis e contagiando o leitor por tabela.

O ponto fraco do livro são os diálogos. Apesar das falas de Carlinha serem bem construídas (que são mais fáceis de criar, por serem de uma criança pequena), o resto dos personagens segue uma linha diretiva que não oscila, e todos parecem falar e agir da mesma maneira, independente de idade, papel na trama ou sexo. O mais evidente disso está nas conversas de Ben com uma personagem feminina, da idade dele e estranhamente formal no linguajar.

Horror na colina de Darrington é uma história rápida para quem gosta de suspense, ação, ocultismo e teorias da conspiração. Recomendo e desejo ver mais do autor, com certeza.