sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Próximas leituras: primeiro semestre 2015


Trazendo as leituras pendentes do semestre passado, incluí as leituras que tentarei completar no primeiro semestre de 2015. Tentei misturar clássicos com os da moda com alguns independentes. Lembrando que posso pegar outros livros, mas deixo aqui o registro pra manter um norte nas minhas escolhas. Lembrando que já li 2 livros em 2015 e estou avançado em O idiota e Extraordinário. Sinto que este ano será proveitoso.




Impressões: A Liga dos Artesãos, de Lauro Kociuba


O ano segue forte nos independentes, e o livro da vez aqui no blog é o primeiro da série Alvores, do paranaense Lauro Kociuba: A liga dos artesãos. O livro passou por um caminho árduo até ser finalizado, mas felizmente o Lauro conseguiu por meio do financiamento coletivo atingir seu objetivo; e o resultado foi um sucesso não só para ele, a produção nacional de fantasia ganha MUITO com a entrada dele no cenário. Vamos à sinopse:


A Liga dos Artesãos (Alvores Livro 1)

O que você sabe sobre elfos, orcs e humanos? 
Abra a mente. Estou abrindo as portas de um mundo novo para você, e é bom começar a rever seus conceitos. Suas certezas são questionáveis, o inesperado sempre é certo e a dúvida não é uma opção. 
Elfos, anões, orcs, trolls, dragões, wargs… E se eles existiram de verdade? E se tudo começou a desaparecer quando a Era dos Homens teve início? E se, ainda hoje, houver remanescentes desses seres entre nós? 
Alvores é uma ideia de realidade alternativa, com inspiração em Neil Gaiman e sua conexões de fantasia e o mundo real. A ideia é explorar o nosso mundo mesclando com ficção fantástica, onde exitem cidades subterrâneas sob as capitais brasileiras; elfos que vivem ocultos entre os homens; descendentes de raças lutando entre si e criaturas fantásticas surgindo e desaparecendo em meio a pontos turísticos. 
Todo esse universo é chamado de Alvores, os seres que surgiram na alvorada do mundo. 
Este primeiro volume é ambientado em Curitiba. Acompanhamos Tales, um filho de encantados, desvendando sua história envolta a uma trama secular: a luta pela sobrevivência de uma raça. Entre batalhas dos descendentes de alvores, a descoberta de existência de uma cidade inteira sob seus pés e a verdade por trás de vários fatos. 
O leitor irá, junto com o protagonista, conhecer máquinas de guerra incríveis, personagens com habilidades curiosas, tramas e mistérios ocorrendo nas praças, terminais ou mesmo nas ruas onde passamos diariamente. De modo gradativo e embasado, trabalho para estreitar a fronteira entre a realidade e a fantasia no livro. 
Veja o mundo com outros olhos!

Lauro Kociuba faz parte da escola de Tolkien, um filão específico dentro da já concorrida produção fantástica nacional (que também precisa vencer o apelo da concorrência internacional) e não faz feio. Transpondo o universo mágico de orcs, anões e elfos para Curitiba, ele nos apresenta a incursão de Tales, um encantado (descendente de criaturas mágicas), numa aventura com ótimo ritmo, linguagem amigável e surpresas que deixam um gostinho de 'quero mais' no leitor após encerrar a leitura.

O livro sofre da quase onipresente fraqueza dos livros que iniciam sagas de fantasia: ter de apresentar o cenário ao passo que desenvolve uma trama que inexoravelmente não vai se fechar. E a história se fecha, mas há tanto deixado para a continuação que o ponto final se torna insuficiente; a impressão que fica é que o que se passou foi apenas um subplot. Trama deixada de lado, a escrita é um aspecto magnífico, com vocabulário bom, frases bem montadas e um estilo direto com ritmo estimulante; o leitor é carregado pelas páginas sem nem sentir as palavras correndo pelos olhos. As personagens são interessantes, apesar de engessadas - o que não podia ser diferente de uma estrutura de fantasia já consolidada há tantos anos - e cada uma tem seu papel a cumprir no enredo. Sinto até que não apareceu nenhuma personagem terciária, sendo as mais distantes apenas secundárias aguardando seu momento de brilhar na continuação da saga. Cada uma delas tem seu jeito simpático, mas se há algo a se apontar negativamente, é a apresentação dos anões: eles são muitos, parecidos demais e com nomes ou parecidos entre si, ou de difícil memorização. Em uma parte mais avançada do livro cheguei a ignorar os nomes de alguns e me lembrava de quem eram pelas ações que executavam.

As descrições são variáveis. por um lado, o autor manobrou bem com as palavras para colocar tudo detalhadamente no papel sem ficar enfadonho - isso se nota muito bem nas descrições de armas e locais imaginários - entretanto o lado real da coisa ficou muito vago. Entendo que há um contexto de representar a capital do Paraná, e que qualquer um pode ver o cenário exato buscando o nome da rua/bairro no google, mas uma pessoa que nunca vistou Curitiba a passeio (leia-se eu) fica jogado nas cenas da cidade sem muito recurso imaginativo. Nem precisaria descrever com detalhes como foi feito na parte subterrânea, apenas menções mais consistentes do que existe no local já bastaria.

O que gostei:
Escrita fluída e notavelmente bem trabalhada.
Ritmo alucinante.
Personagens bem definidos.
Diálogos bons.
Descrições da parte fantástica.

O que não gostei:
Nomes de fantasia confusos.
O livro é o começo de algo maior.
Descrição de Curitiba poderia ser mais desenvolvida.
Senti um incômodo inexplicável no entre-cenas/capítulos. Parecia faltar algo ali.

Considerações finais:
Alvores promete. A liga dos artesãos traz um enredo bem conduzido, personagens carismáticos e uma escrita sensacional. Num Brasil onde a fantasia publicada segue uma explosão impulsionada por questões de demanda, Lauro Kociuba oferta uma pérola e mostra que escrita independente também pode ser de alto nível.





sábado, 3 de janeiro de 2015

Impressões: O Tesouro de Caularom, de Lívia Stocco


Chegou 2015 e, com ele, novas leituras e análises. O primeiro livro do ano é MISTBORN MELHORADO O tesouro de Caularom, da autora nacional Lívia Stocco (já resenhei 2 livros dela aqui no blog: Bhardo 1 e Bhardo 2). O conto foi uma ótima leitura, rápida e cativante, com todos os elementos necessários para satisfazer qualquer leitor de fantasia. Links para o trabalho da autora CLIQUE AQUI!!!
Vamos à sinopse:


O Tesouro de Caularom: Contos de Bhardo
Plúnio nasceu em berço de ouro e é herdeiro da coroa de Darfindor, reino que escraviza os indarae, que viviam nas florestas. Mas sua vida e suas escolhas são afetadas pelo proibido e desesperado amor pela bela Landell, escrava que guarda um segredo que pode mudar o destino de todos. 
Esta é a história do Tesouro de Caularom, um dos sete Objetos Supremos.



A sinopse é curta e define o mote da história, sem muitos rodeios e com honestidade. Existe o drama amoroso entre nobre e escrava e existe o poder misterioso que ajudará os escravos na rebelião contra a opressão. Não há pretensão em revolucionar o uso da fantasia na literatura, mas de entregar uma história interessante, bem construída e verossímil para o leitor, e nisso o conto se sai muito bem. O universo da história é o mesmo dos outros livros da autora, e se encaixa sem causar confusões (até pela história se passar muitos anos antes da época dos romances principais), mas não há ônus algum em pegar o livro para uma leitura independente. Para estes leitores iniciantes, há apresentação de cenário geográfico, personagens e background dos povos envolvidos na trama.

A linguagem é excelente! Narração e descrição são muito bem dosadas, alternando-se no texto com diálogos bem escritos (leia-se: respeitando nuances de cada personagem e seus trejeitos) e fluídos. Por ser um conto, algumas (poucas) passagens dão a impressão de superficialidade, de tão rápidas, porém essa impressão é compensada pelo ótimo ritmo que leva o leitor pelos capítulos, que não são muito curtos nem chegam a ser longos.

A se destacar no enredo, a questão do preconceito foi colocada de maneira magistral. É muito fácil abordar este tema e cair num proselitismo desnecessário e ofensivo ao leitor que já tem maturidade, e a Lívia percorreu um caminho muito inteligente: tocou na questão racial com força, inclusive  explicitando o povo negro e sua dificuldade, mas sem se prender a isto como única forma de expressão deste mal; afinal, o preconceito é um mal que atinge qualquer um, desde que o preconceituoso esteja numa posição favorável a exercê-lo. A questão étnica não é novidade no trabalho da autora, e com O tesouro de Caularom ela continua fazendo um trabalho maravilhoso neste âmbito.

Dos três trabalhos da autora, acho que este é o mais abrangente em termos de público. Os dois livros principais de Bhardo me deixam a impressão de infantojuvenil muito maior que O tesouro de Caularom, e este, apesar de também ter o mesmo público-alvo, me agradou sem que eu precisasse ficar me lembrando que era um infantojuvenil a cada capítulo. Só em algumas passagens - como personagem X estar buscando Y e o achar com uma facilidade duvidosa, ou a masmorra para tortura de escravos se localizar convenientemente acessível por um salão comum na casa do protagonista - me fizeram lembrar que a história é primariamente voltada para mais jovens.

O que gostei:
- Personagens bem construídos
- Cenário bem apresentado
- Trama coerente
- Linguagem fluída
- História divertida

O que não gostei:
- O ebook não possui índice ativo

Considerações finais:
O tesouro de Caularom é uma experiência bastante prazerosa, que cumpre seu papel de ampliar o universo de Bhardo e enriquece a literatura fantástica brasileira com uma qualidade criativa ímpar. Eu quero mais.