sexta-feira, 29 de março de 2013

+1 resenha para O homem sem signo

Desta vez quem escreveu a resenha foi a Lívia Stocco,  autora de A fantástica história do Mundo de Bhardo, livro lançado de forma independente como o meu. Estou lendo o livro dela e logo farei resenha aqui.



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O link para a resenha é: http://mundodebhardo.blogspot.com.br/2013/03/o-homem-sem-signo-resenha.html
=D

quinta-feira, 14 de março de 2013

Nova alternativa de publicação


Bom, queria deixar claro desde o início que este post não é de revolta com a editora. Feito isso, posso dizer também que não é um post patrocinado nem de propaganda, e que é apenas a minha opinião sobre o que observei.

Agora sem enrolar, vamos ao ponto: A editora Dracaena anunciou um novo selo, exclusivo para autopublicação. Heima é o nome, e o site pode ser acessado aqui http://www.heima.com.br



O que percebi olhando a página, é que a opção de autopublicação, bastante chamativa para novos escritores (e falo isso com conhecimento de causa, pois me encaixo no grupo e pesquiso muito sobre autopublicação) pode não ser algo tão acessível para quem está iniciando. Tomemos por exemplo o pacote mais simples do serviço que a editora Heima oferece.

O autor paga aproximadamente 6 mil reais para publicar 200 livros. Apenas para recuperar o investimento, cada livro precisará ser vendido por 30 reais. Digamos que o autor resolva acrescentar 5 reais ao preço de capa, para seu lucro e separe 20 unidades do livro para distribuição gratuita, visando publicidade e divulgação geral da obra. Só nessa brincadeira, cada unidade do livro não sairá por menos de 39 reais. E é aí que entra o real fator estratégico. Qual livro se vende com um preço de 40 reais? Um livro muito fino com certeza não valeria esse preço pela ótica mais comum, ainda mais se o autor é desconhecido e não há referências dele em outras obras.

A pergunta que fica após esse monte de contas é: valerá a pena recorrer a este serviço? Você tem uma base que vai sustentar a produção do livro e pagar o investimento, ou vai apenas estocar 200 livros no fundo do guarda-roupas?



Para não deixar o texto totalmente pessimista, vejamos o lado bom da iniciativa. A Dracaena já tem uma boa visibilidade no mercado, e é de se esperar que o novo selo siga este rumo. As capas (serviço incluso no pagamento) são muito lindas. Eu considero as capas da Dracaena as mais bonitas do mercado brasileiro, e isso deve ajudar na hora de conseguir alguns consumidores.

E agora? Será que vale a pena investir?

Com certeza deve valer, mas não renderá frutos caso o autor não se empenhe muito em seu trabalho, e estou falando do trabalho ALÉM da escrita. Boa sorte à Heima e aos autores que se interessarem!

quinta-feira, 7 de março de 2013

Vapor, fumaça e perfume

Estou realmente sem tempo. Dei uma pausa no livro que estou escrevendo, parei com a divulgação de O Homem sem Signo, e não tenho nem lido livros. Provavelmente continuarei desse jeito até o final de maio, então é possível que eu não poste nada até lá. Aliás, postarei, mas serão apenas contos que já estão escritos e salvos no meu HD. Talvez um por semana, isso sendo MUITO otimista.

Aqui vai um que escrevi no fim de 2012. Peguei o mundo steampunk, com sua ambientação vitoriana "pitoresca" e suas belas mulheres com espartilhos e saias rodadas (acho isso muito sensual), e imaginei como colocar um menino interagindo neste mundo. E o que saiu foi:



Vapor, fumaça e perfume

Sob a luz da lamparina, Victor desenhava algo que se assemelhava à roda de um automóvel. Contrariando as regras do desenho, ele não construía o esboço que serviria de estrutura para o desenho. Preferia detalhar toda a parte que havia começado, para só então passar adiante. Pouco ortodoxo, talvez, mas o garoto tinha talento e aos 12 anos era difícil ter de apagar todo o desenho por errar na composição. Naquele início de noite ele riscava o papel com a destreza costumeira, até que ouviu o barulho da porta se abrindo. Correu até a sala da casa, onde pegou o seu avô ainda entrando.
-Olá, Victor! Acenda alguma vela, por favor. Só porque trabalho na mina não significa que consigo enxergar no escuro – o garoto prontamente iluminou o lugar – Agora está bem melhor! Trabalhou no automóvel, como lhe pedi?
O avô retirou as pesadas luvas de algodão grosso e começou a longa série de tapas na roupa, para retirar parte da sujeira acumulada. Ao final, deu uma sacodida na barba grossa lançando partículas no rosto de Victor, que logo tratou de limpar.
-Eu fiz quase tudo, só não consegui ajustar o movimento das rodas dianteiras. Tentei durante um tempão, mas elas não ficavam no lugar, então desisti!
-Ora, moleque, algo tão simples! Vamos lá que resolvo isso num minuto.
Os dois seguiram para os fundos da casa, onde havia uma oficina simplificada. Norman deitou-se no chão e se arrastou até conseguir um bom ângulo de visão.
-Não tem nada de errado aqui, você apenas não se empenhou o suficiente. Traga-me a lanterna, que esta vela não ajuda muito aqui embaixo.
Victor relutou em pegar a lanterna, afirmando que a mesma nunca funcionava, mas acabou entregando a seu avô, que demonstrou o funcionamento. Para produzir luz, a manivela devia ser girada lentamente no começo e aos poucos ganhar velocidade, assim em questão de poucos minutos o filamento incandesceu e a lanterna iluminou toda a oficina.
-Viu só como é fácil? Você não consegue porque não presta atenção, ou gira rápido demais ou lento demais. Agora vou ajustar isso de uma vez.
Seguiu-se uma sucessão de arfadas e sons de batidas metálicas, e finalmente o velho saiu debaixo do automóvel. Tinha a barba cheia e ainda enegrecida pela sujeira, era corpulento e alto, mas não botava medo em ninguém, pois sua careca e olhos risonhos denunciavam se tratar de uma pessoa muito amável. Os dois voltaram para dentro da casa, onde o avô explicou:
-Não tinha nada de diferente ali, apenas o encaixe era muito apertado, por isso você não conseguiu apertar as peças. As rodas precisam estar muito bem ajustadas, não pode ser como no resto do carro onde você apenas deu um apertãozinho. Já pensou se as rodas viram para lados diferentes? Ele quebra na mesma hora!
Agora vá fazer um chá para mim e depois durma, pois amanhã acordaremos cedo para fazer um teste com ele.
Enquanto a chaleira fervia água, esquentava também o sangue correndo nas veias de Victor. Após anos de trabalho, finalmente o automóvel estava sendo terminado. Seria o primeiro da vila, e motivo de orgulho para os dois moradores do casebre no topo da colina Bentley.
No dia seguinte, eles acordaram cedo para fazer o teste. Sentados no banco rígido – da melhor qualidade, e comprado numa verdadeira pechincha – os dois gritaram de emoção quando deram a partida e o motor roncou alto. Lentamente ele começou a se movimentar, chacoalhando mais que a velha maria-fumaça que passava na vila em direção à cidade de Leopold. Norman saltou do assento para o chão, “Vamos, quero ver você dirigindo”, gritou. Victor arrastou-se lateralmente pelo banco até alcançar o volante. Mesmo lento, ao ponto de Norman acompanhar com facilidade a pé, Victor sentiu-se feliz como nunca, em guiar uma máquina tão grande, que fazia tanto barulho e chacoalhava freneticamente.
-Agora que está funcionando perfeitamente, só precisamos completar o câmbio e ele vai rodar mais rápido que qualquer cavalo. Quero que você vá até o comércio central e me traga as peças que faltam.
Durante a tarde, quando Norman já tinha partido para a mina, Victor saiu com os itens anotados, ansioso para voltar e terminar a construção do automóvel. Chegando ao centro da vila, porém, foi tomado de grande decepção quando soube do comerciante de máquinas que as peças não existiam ali, e ele ainda não tinha prazo para ir até Leopold, onde conseguiria compra-las.
Desanimado, Victor prostrou-se na sombra de uma árvore sem vontade alguma de voltar para casa. Foi vendo o menino mandriar que o dono da pensão gritou seu nome:
-Ei, Victor! Seu avô sabe que anda vadiando por aí? Venha, me dê uma mão aqui. O ajudante não apareceu hoje, estou totalmente atarefado. Leve essas malas até o quarto 12, no segundo andar.
Victor seguiu desajeitado, com três malas empilhadas nos braços, quase a tapar sua visão. Após subir cuidadosamente as escadas, bateu na porta para anunciar a chegada, mas não obtendo resposta, entrou sem fazer cerimônia. Quando terminara de posicionar as malas no canto de uma parede, foi surpreendido pela voz que vinha do lavatório.
-Você trouxe as malas? Espere sentado aí que vou te dar umas moedas, garoto.
O tom feminino pegou Victor de surpresa, apesar de que ele podia ter deduzido ao olhar a cor vibrante da mala que havia acabado de colocar no chão. A mala grande era de um vermelho extremamente chamativo. Enquanto esperava sentado na cama, notou uma grande bolsa aberta em cima de uma mesinha, de onde se via algumas bugigangas, joias visivelmente de pouco valor, e um porta-retratos com a foto de uma bela mulher loira, de boca avermelhada e olhos bem arredondados. Tomado de um controle hipnótico, Victor se espichou tentando ver mais da imagem, sem contanto levantar da cama. A mulher saiu do lavatório e percebeu a curiosidade dele.
-O que está olhando? – Victor negou o olhar, mas acabou pedindo desculpas logo em seguida – Gostou das minhas joias?
Ela colocou uma volta no pescoço e anel no dedo, fazendo a mesma pose da fotografia. Victor salivou um pouco ao ver aquela bela mulher tão de perto, com os cabelos loiros molhados e presos, a pele ruborizada de calor, em que o pescoço fino traçava um caminho delicioso que seguia a volta dourada até o busto insinuado pela camisola decotada que vestia. Os seios tinham uma fina camada de fuligem por cima, mas eram redondos e firmes; o olhar fixo do menino só foi quebrado pela pergunta da mulher:
-Você trabalha aqui no hotel? – ela já havia notado a timidez do garoto, e resolveu brincar um pouco – Bom, já que você está ajudando hoje, vá até a banheira e pegue a esponja úmida que eu estava usando agora a pouco.
Victor sentiu um perfume extasiante dentro do lavatório, mas apenas pegou a esponja e saiu sem demora, entregando à mulher. Ela apanhou a esponja delicadamente e espremeu na altura das saboneteiras, fazendo a água escorrer por entre os seios, dando a eles um brilho ainda mais atraente.
-Limpei?
-S-sim... Ainda tem um pouco de fuligem, mas tá tudo bem...
-Aonde? – uma risada faceira escapou e ela baixou os olhos até o decote e com os dedos puxou a gola da camisola, aumentando o decote.
Induzido e sem resistência, Victor levou os dedos trêmulos até o seio, onde vagarosamente passou a mão, tirando a fuligem sem pressa. Quando não havia mais sujeira, ele empurrou sorrateiramente a mão para dentro da camisola, tentando alcançar o máximo que podia antes de tirar a mão, mas antes dele puxar de volta, ela apertou a mão dele contra o seio. Foi quando ele finalmente levantou os olhos e percebeu que ela o olhava intensamente.
-Você é bem danadinho... – disse ela baixinho, e encostou os lábios rubros na boca do menino. Soltou a mão dele, que foi recolhida, e perguntou – Qual seu nome?
-Victor.
-Meu nome é Lancia, Victor, muito prazer.
Lancia puxou Victor para dar um abraço, e quando ele encostou o queixo nas costas dela, sentiu novamente o perfume que inebriava a alma, de tal forma que timidamente aproximou a boca do pescoço nu de Lancia e com a língua para fora, tocou o pescoço dela. Sem indício de desaprovação, ele encostou a boca e provou daquela carne suculenta, sugando o máximo que podia daquele sabor enquanto ela passava as mãos no seu cabelo, acariciando-o.
Os dedos então se fecharam com força, e o beijo foi interrompido, com a cabeça sendo puxada para trás.
-Já está bom, mocinho. Tenho todas essas malas para arrumar, não vê?
Enquanto disfarçava para secar a boca, Victor recebeu os trocados que lhe tinham sido prometidos, e um convite para voltar noutro dia, pela tarde. O menino desceu as escadas tão rápido quanto teria rolado, e disparou pela porta da frente da pensão, sem dar ouvidos aos agradecimentos do dono.
Correu para casa num ânimo incontrolável, e naquela noite custou a dormir, pensando em voltar à pensão no dia seguinte. Norman, que chegara mais tarde, não interrompeu o sono do neto, mas pela manhã, o acordou logo cedo.
-E as peças, não trouxe?
-Não, o vendedor não tinha e parece que vai demorar pra conseguir.
-Não comprou as peças, vi que não adiantou o desenho do outro automóvel... Ficou fazendo o que a tarde toda? Quer saber, eu vou é limpar minhas botas que ganho mais. E você vá estudar, porque desenho é a parte mais fácil de construir o automóvel, você está muito longe de saber o resto.
Enquanto se apoiava na mesa para estudar, Victor não deixava de pensar no perfume que voltaria a sentir após algumas poucas horas. A manhã inteira não rendeu três páginas de leitura.
Naquela tarde, pedrinhas acertaram a janela do quarto de Lancia, que logo atendeu o chamado. Victor aguardava abaixo, segurando uma cesta coberta. Após avisar que desceria, passaram vinte minutos até ela sair pela porta da pensão, de cabelos penteados, usando um corset que acentuava a forma que a camisola havia escondido, e a saia cheia descia até os joelhos; nas mãos, carregava um livro espesso.
Sentaram numa colina arborizada longe do centro da vila, e Victor revelou o que continha a cesta. Alguns pães doces e uma garrafa de vinho.
-Onde você arranjou tudo isso?
-Lá de casa mesmo – revelou, sem dizer que havia furtado do avô.
-Mas que delícia, Victor. Ai, se eu soubesse que aqui tinha um cavalheiro como você, eu já teria saído há tempos de Fultonson.
-Você nasceu lá?
-Sim, trabalhava na estação da vila. Então decidi morar em Leopold, mas primeiro estou trabalhando na mina daqui para não chegar a Leopold com uma mão na frente e outra atrás. Se for desse jeito, vou acabar sendo mais uma das mulheres da casa de Claudette. Você conhece?
-Não...
-É claro, que não. Que pergunta a minha...
-E você consegue trabalhar na mina?
-Eu não sou mineira, trabalho do lado de fora dela pelo período da manhã, apenas carregando as pedras que são extraídas até a carvoaria. Mas mesmo assim é um trabalho duro, viu? Estou aguentando porque sei que é apenas temporário.
-Então você não vai ficar por aqui?
Lancia estava a ponto de partir o coração do garoto, então logo tratou de mudar o assunto. Pegou o livro que até então mantivera fechado, e mostrou a Victor. Era um álbum de fotografias, tiradas na estação de Fultonson. Enquanto ela passava as páginas, Victor se aproximava do corpo de Lancia, tentando captar a fragrância que ele tanto gostava nela. Durante essa aproximação, a mão encostou na perna de Lancia, por debaixo do livro aberto. Constrangido, tentou tirar a mão mas ela, sem parar de comentar as fotos, moveu a perna para perto dele, sinalizando que estava tudo bem.
O coração passou a bater mais forte, como o motor do automóvel que havia dirigido no dia anterior. Enquanto acariciava a perna, sua boca se encheu de água; após uma longa sequência de páginas viradas, a mão de Victor desceu até o joelho e voltou a subir, agora por dentro da saia. Sentiu o sangue bombear por todo corpo, naquele minuto de medo e conquista, em que tocava a coxa nua de Lancia. Enquanto apertava aquela carne macia, estranhamente quente, não viu o tempo passar, e com a boca cheia d’água, ele engoliu tudo de uma vez quando um barulho monstruoso interrompeu aquele momento.
Uma nuvem de poeira e fumaça vinha do horizonte. Na ponta da nuvem, pôde-se observar qual era a causa. Um jovem vestido de preto, com uma capa amarela, óculos de proteção e um chapéu baixo, chegou próximo aos dois pilotando uma máquina completamente bizarra. Victor rapidamente retirou a mão da saia de Lancia quando percebeu a parada do jovem, e só então começou a se perguntar que tipo de máquina era aquela. Parecia um automóvel, mas possuía apenas duas rodas, tinha um motor enorme atrás da primeira roda, onde encimava o piloto. Não tinha volante nem pedal de aceleração.
-Ei, loira! Essa vila adiante é Fultonson?
Indignado como ele tratava uma dama desconhecida, Victor mandou que ele ao menos descesse do veículo. Com um riso de desdém, o jovem desligou a máquina, caminhou até os dois e sentou-se do lado oposto a Victor, pressionando o corpo de Lancia ao dele. Segurou o queixo dela com os dedos e olhou nos olhos, perguntando novamente:
-Ei, loira... Essa vila é Fultonson?
Ela corou e com a voz quase muda respondeu que não. Victor estava furioso, mas não se atrevia a enfrentar alguém tão maior. Resolveu então despachar o intruso.
-Segue até o centro da vila, quando você avistar os trilhos da maria-fumaça, é só seguir que em três horas de cavalgada chega a Fultonson.
-Tá bom, menino. Mas agora acho que eu quero ficar aqui mesmo.
Olhando os rostos dos dois tão próximos, Victor correu até o veículo do jovem.
-E o que é isso? Onde você conseguiu? – a distração foi uma saída acertada, pois subitamente o rapaz esqueceu Lancia e correu para impedir o menino de tocar no veículo.
-Ei, garoto! Não pega aí não, vai queimar a mão. Essa é a SnakeWhip, a motocicleta mais rápida de Leopold – Victor viu o mecanismo de ignição, através de uma corda puxada por cima do motor, e ficou intrigado com a novidade.
-Nunca tinha visto uma dessas.
-Pois é, as motocicletas foram inventadas apenas há dois anos, não é de se esperar que não tenha nenhuma nesse fim de mundo. Agora dá licença que vou até Fultonson, meu chapa.
O jovem deu duas voltas com a SnakeWhip ao redor dos dois, envolvendo-os numa nuvem de poeira, fumaça e barulho ensurdecedor, para depois sumir numa velocidade enorme. Após a poeira ter baixado, Lancia se levantou, limpando o vestido e os cabelos, e fez menção de voltar para a vila. A decepção tomou conta de Victor, que passou a odiar e culpar aquele jovem que apareceu de repente e sumiu ainda mais veloz.
Quando caiu a noite e Norman chegou em casa, encontrou Victor dormindo, mas na mesa o desenho terminado. Para surpresa, o desenho era algo completamente diferente de um carro. Mantinha o assento e volante, mas apenas uma roda na frente e duas atrás, sem capota, deixando o motorista completamente a vulnerável ao clima.
Quando foi questionar o neto, já na manhã seguinte, foi pego de surpresa pela chegada do Coruja Prateada, a invenção que cruzava os céus e marcou o surgimento do dirigível. Afoito, o velho avisou a Victor que logo terminaria o automóvel, pois o Coruja Prateada com certeza teria as peças necessárias em estoque, mas era necessário ir até a vila o mais cedo possível, do contrário ele podia levantar voo e ficariam novamente à mercê do comerciante local.
Quando chegaram à vila, o velho foi direto ao dirigível, enquanto Victor foi até a pensão. Sem obter resposta da janela, foi até a entrada e perguntou de Lancia ao dono, e para a tristeza, descobriu que um jovem surgira na manhã, pilotando uma máquina estranha, gritando por uma loira em todos os cantos da vila. Ela acabou saindo com ele e levando quase nada de bagagem, de tal forma que tinha deixado muita coisa no quarto da pensão.
Nos dias seguintes, Victor sempre voltou à pensão procurando notícias de Lancia. Depois do terceiro mês, ele não perguntava mais. A vida continuou do jeito de sempre, até que dois anos se passaram e o centro da vila viu novamente suas ruas serem percorridas por um jovem numa máquina estranha, de velocidade incomum.
Quando as pessoas, curiosas, perguntavam sobre aquela máquina, Norman respondia:
-Foi desenhado por ele. Com três rodas, tem uma estabilidade muito grande, e com o peso reduzido, alcança velocidades altíssimas. No final das contas ia ser o presente dele, então eu não o impedi de fazer as modificações. O nome? Ah, ele chamou de Victorious.
Acompanhando os trilhos da maria-fumaça – na direção de onde brotava uma escuridão densa de fumaça, a cidade de Leopold – com luvas e colete de couro de cobra, olhos protegidos pelos óculos, cabelos soltos ao vento e um frasco de perfume vazio no bolso da camisa, Victor partia para encontrar no mundo o prazer que a vida na vila não podia mais conceder.