sábado, 17 de maio de 2014

Impressões: O processo, de Franz Kafka


Voltando a uma opinião sobre um clássico, pois nem só de best seller ou independente se faz minha lista de leitura. E o livro da vez é O Processo do famosão Kafka, cujos livros eu não conhecia até então. Li a edição da Companhia de Bolso, traduzida por Modesto Carone, que aliás, merece os parabéns, gostei muito do trabalho que ele fez. Sem delongas, vamos à sinopse.



'Alguém certamente havia caluniado Josef K. pois uma manhã ele foi detido sem ter feito mal algum.' Assim começa um dos maiores romances do século XX. E começa também o drama do protagonista de 'O processo', que luta do começo ao fim para descobrir do que é acusado, quem o acusa e com base em que lei. Josef K. sempre confrontará a impossibilidade de escolher um caminho que lhe pareça sensato ou lógico, pois o processo de que é vítima segue leis próprias, as leis do arbítrio. O labirinto exemplarmente 'kafkiano' do qual Josef K. tentará se desvencilhar traduz um sentimento que nos diz muito - o de que a razão pode pouco contra a banalidade da violência irracional.

Bom, como eu não conhecia nada do Kafka, a leitura foi uma verdadeira descoberta, e em sua maioria, positiva. O começo é truncado, e demorei para me acostumar com as passagens de longos parágrafos - certas divagações chegam a se estender por 2 páginas até alcançar o ponto parágrafo - mas assim que me acostumei com a linguagem, o livro se tornou deveras interessante. A história é contada por cenas separadas, e apesar de eu não ter achado isto tão estranho, fui bisbilhotar o posfácio e descobri que o livro sequer está terminado. Sim, o autor morreu antes de terminar a obra, e ela foi montada pelos escritos dele; não tenho nada contra, inclusive gostei do livro, mas podia estar evidenciado na sinopse, ou com alguma nota nas primeiras páginas.

Continuando: o livro destaca algumas cenas de Joseph K., procurador de um banco que se vê detido e descobre que é alvo de um processo, de natureza desconhecida, e que mesmo assim é levado em altas instâncias de uma estrutura judiciária obscura e curiosa. O livro, mesmo não completado, possui um fim, e ainda que a falta de certas passagens tenham deixado a história sem pé nem cabeça, o que vale mesmo é a crítica do autor à burocracia e uma boa dose de realismo intrincado em situações bizarramente fantasiosas, que acabam sendo muito divertidas, especialmente pela caracterização primorosa que Kafka dá aos personagens. Não é um livro para qualquer um e é muito recomendado para estudos literários, mas ainda sim eu consegui me entreter com a história, mesmo não tendo a bagagem teórica para captar tantas críticas escondidas - no entanto tomei conhecimento das mesmas lendo o já mencionado posfácio.

O que gostei:

Caracterização de personagens
Linguagem bastante singular, mas que se torna fácil sem muito esforço

O que não gostei:

Faltaram as partes que o autor não escreveu =P
As longas sentenças podem se tornar confusas, uma vez ou outra

Considerações finais:

O livro não é longo, e mesmo com bastante simbolismo, a história é interessante. A leitura se torna surpreendentemente rápida, apesar do estilo verborrágico, especialmente nos diálogos, e a personalidade de K. é sã o suficiente para segurar o leitor no mundo de loucuras que é palco de O Processo.




quinta-feira, 1 de maio de 2014

Impressões: A fantástica história do Mundo de Bhardo - Octoforte e os Objetos Supremos, de L T R Stocco



Sinopse:

Os sete se dividem. Na companhia da enigmática Caçadora, Márcio, Pablo, Yoná e Diana cruzarão as terras sul do Continente Maior sob uma tempestade que nunca cessa e enfrentarão os perigos de uma ruína antiga em busca do tesouro que procuram. Ao memso tempo, Dominique e Shenu, guiados por Jadhe, rumam para a gelada Terra dos Cristais, mas precisarão cruzar o Oceano Vermelho para chegar até lá, mas essa viagem guarda muitos mistérios, pois Jadhe parece saber muito mais do que está disposta a contar. E, se não bastassem os perigos da própria busca, Zebarãn agora sabe quem eles são e parece poder adivinhar cada passo das sentinelas. Conseguirão os jovens conquistar as joias perdidas? Serão capazes de escapar das armadilhas lançadas contra eles? Chegarão na ilha Agerta a tempo de proteger seus amigos das artimanhas do terrível rei? Não perca a emocionante conclusão de “Octoforte e os Objetos Supremos”, uma aventura fantástica que vai te tirar o fôlego!

Cá estou para opinar sobre a segunda parte do romance de fantasia da Lívia Stocco. A primeira parte da história já teve um post aqui no blog, confira CLICANDO AQUI. O livro retoma a história exatamente de onde havia parado, sem retrospectiva ou resumo dos acontecimentos da Parte I. Devo dizer que essa decisão me deixou apreensivo com a leitura, pois eu li o primeiro logo que saiu, há um ano, e já passava pela minha cabeça a possibilidade de ficar boiando na história por não lembrar dos fatos. Ledo engano, a história segue firme  e dá algumas dicas que fazem recordar instantaneamente o enredo do primeiro livro, bem como das personagens e suas particularidades. Isto me fez perceber que o trabalho de caracterização da autora no primeiro livro foi ainda melhor que o imaginado, pois eu sou bastante esquecido, mas ainda sim ela contou a história de um jeito que ficou tudo gravado na mente, mesmo que adormecido. Bastava uma frase remetendo a uma cena do outro livro, e eu lembrava de tudo. As várias personagens, da mesma forma; cada uma tão bem definida, que não tive problemas em me sentir próximo a elas, mesmo um ano depois (só os irmãos Pablo e Márcio que eu me confundia um pouco, talvez por eles serem "os normais" da história).

A história continua simples, direta e divertida. Os heróis continuam sua busca pelos objetos supremos, e retornam para abrir o portal de volta para casa. Não há muito o que dizer sobre a trama; é uma genuína história de aventura, muito bem contada, por sinal. Os perigos se alternavam entre o percurso da jornada e a perseguição de Zebarãn, o vilão do mundo de Bhardo, que infelizmente não apareceu tanto quanto eu esperava. O sentimento que fica é que Bhardo é muito vasto e independente, e mesmo acompanhando a viagem específica dos guardiões de Octoforte, há outras coisas rolando e que não aparecem no livro. Particularmente eu acho isso fantástico, mas há muita gente que pode achar ruim - ou desnecessário - esse estilo de contar histórias. Da minha parte, eu não mudaria, só colocaria uma cena a mais com Zebarãn ou Macrux, este último servindo apenas como alegoria e sem real propósito.

O que gostei:

Desenvolvimento de personagens muito claro e bem planejado.
Escrita rápida e concisa.
Diálogos bem construídos.
Sensação de "mundo maior que a história".

O que não gostei:

As descrições, algumas poucas vezes, ficava embaralhada, escrita com uma pressa desnecessária.
Falta de desenvolvimento de Zebarãn, Macrux e, um pouco, da Caçadora.
Alguns erros de digitação e posicionamento de vírgulas me incomodaram.

Considerações finais:

Um ano após ter sido iniciada, minha jornada por Bhardo terminou. Fiquei muito feliz de acompanhar essa história, especialmente por ser a estréia de uma autora brasileira. Lívia Stocco mostrou ter talento e criatividade, de forma que eu recomendo A fantástica história do Mundo de Bhardo a TODOS, em especial às crianças, que são o público-alvo. Adolescentes também, mas hoje em dia eles preferem ler obras adultas, mesmo sem a maturidade para entendê-los completamente. Me decepciona um pouco saber da dificuldade de um bom livro como este ser lançado oficialmente, precisando do esforço independente e da boa vontade de alguns poucos leitores para ter sua mensagem divulgada. Gostaria muito que alguma editora atentasse para esta obra em especial; os poucos ajustes que ela necessita podem ser dados por qualquer editor competente. Os pequenos leitores do Brasil agradecerão.