terça-feira, 25 de outubro de 2011
O desânimo e a volta por cima
domingo, 23 de outubro de 2011
A reação presente e a reação futura
Ele chegou o mais rápido que pôde. Até ultrapassou alguns sinais fechados, mas só depois de ter certeza que não morreria nessa imprudência. Quando chegou a casa, seu vizinho Gilberto já estava na calçada, afoito.
- Eu ia ligar pra ambulância também, mas sua mãe falou que você estava aqui perto...
Ele sai do carro correndo, não tirou nem a chave. Os dois entraram e lá estavam as duas caídas no chão. A esposa, desacordada, de bruços no tapete e a mãe dele, meio torta, desmaiou quando estava apoiada numa cadeira de madeira. Não chegou nem a cair, foi deslizando devagar até parar no chão, meio desengonçada.
Na porta do hospital, os enfermeiros levaram as duas, e ele ficou preenchendo papéis. Percebeu que a mão tremia, a caneta não parava quieta. Esperou, esperou. Sentiu vontade de fumar um cigarro, mas era proibido lá dentro. E também não tinha nenhum cigarro, afinal de contas nem era fumante. A mãe dele tinha problema respiratório, já não lembrava de muita coisa, sofria com osteoporose... Tomava quatro comprimidos por dia. Até que não estava tão mal. E a esposa? Nunca apresentou problemas de saúde, um desmaio repentino é para se preocupar.
O médico finalmente o chama. A mãe faleceu. Ele chorou, e depois pensou. E continuou chorando. Um tempo depois, foi chamado para o quarto onde estava a esposa. Ele passou no banheiro antes, para lavar o rosto e se recompor. Quando chegou ao quarto, ela estava bem. Não parecia ótima porque ninguém fica ótimo numa cama de hospital.
- Você vai ser pai – ela disse chorando de felicidade.
Pessoas diferentes pensam diferente, e principalmente, lembram diferente. Alguém pode lembrar-se deste dia com dificuldade, como sendo o dia em que recebeu a melhor notícia da vida, e que sua mãe finalmente conseguiu o descanso merecido, após uma vida dura e satisfeita. Outra pessoa lembraria esse dia fortemente, cada segundo dele, pois foi o dia mais triste de todos. A notícia do filho foi uma dádiva, porém ele já havia perdido o pai; perder a mãe tão de repente, sem aviso, simplesmente ele perdeu a única chance de dizer tudo que gostaria. Será que era a única mesmo? Foi um dia muito triste.
O jeito que você age, as coisas que fala, daqui a vinte anos vai se lembrar com saudade e satisfação, ou com pesar e arrependimento? Ainda é tempo de escolher como você vai se sentir no futuro, pois no presente, não dá para controlar. Sobra apenas a dúvida de qual notícia pesa mais.