quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Impressões: A faca sutil, de Philip Pullman


Dois posts em menos de 24 horas? Pois é, mas não estou maluco, apenas acumulei leituras e agora estou postando as impressões de uma vez só no blog. O livro de agora é o segundo volume de uma saga que gostei muito quando li o primeiro livro, mas cuja empolgação se esvaiu por completo após concluir a leitura da continuação: A faca sutil, da trilogia As fronteiras do universo. Vejam a sinopse abaixo.

A Faca Sutil

Neste segundo volume da trilogia Fronteiras do Universo , Will tem apenas 12 anos e tudo começa quando, depois de matar um homem, ele parte para descobrir a verdade sobre o desaparecimento de seu pai. Num passe de mágica, atravessa o ar e penetra num mundo onde conhece uma estranha garota, Lyra, que, como ele, também tem uma missão a cumprir. Em Cittàgazze, onde os dois se encontram, as ruas são habitadas por espectros letais, devoradores de almas e outras criaturas aterradoras que disputam com todas as forças um poderoso talismã, capaz de cortar o nada e abrir brechas para outros universos - a faca sutil.

Novamente, a sinopse é um resumo eficaz do livro, então não vou me dar ao trabalho de explicar muito mais do que ela já explica sobre o enredo. Após a viagem instigante de Lyra para salvar seu pai no primeiro livro, no segundo nós acompanhamos a jornada se desenrolar no nosso mundo, ou um mundo paralelo praticamente igual ao nosso. Aqui há um menino chamado Will que se torna alvo de pessoas estranhas e por uma obra do acaso acha a passagem para um outro mundo. Mundo esse que é o ponto de convergência para tudo na história, desde os personagens do livro 1, que aparentemente abandonaram o medo de explorar os mundos externos, até exploradores, cientistas e militares do nosso mundo.

Nesse mundo misterioso, Lyra e Will descobrem e tomam posse de um poderoso artefato cobiçado por todo e qualquer adulto e são "convocados" pelos pais de Lyra e Will para tomar parte num grande esquema de proporções extradimensionais, arquitetado para livrar os homens de suas amarras do destino. A trama parece interessante, e a história geral É BOA, mas a forma que se desenvolveu deixou muito a desejar. Lyra, a moleca que conseguia se virar com mentiras e traquinagens no seu mundo mágico logo percebe que no nosso mundo a malandragem de uma criança não é capaz de enganar a experiência de vida de um adulto. Essa é uma avaliação positiva da trama, pois dá mais verossimilhança, PORÉM A SOLUÇÃO PARA ISSO É QUE ACABOU COM A GRAÇA: sem poder se virar com seu talento infantil para escapada de situações indesejadas, a solução dada a Lyra pelo autor foi o uso do aletiômetro, instrumento onisciente que só responde adequadamente à menina.

No primeiro  livro o instrumento é muito bem utilizado, sendo inicialmente uma peça morta e ao longo da trama ganha importância e utilidade, mas no segundo livro Lyra já domina seu uso, o que transforma o aletiômetro num DEUS EX MACHINA constante desde o início, fazendo as vezes de "voz do escritor" para guiar a trama do jeitinho que quer, só ordenando a menina a fazer tudo necessário para o desenrolar da história. A justificativa para isso é bastante obscura: as informações adquiridas no começo são um pouco contraditórias, afinal o objetivo dos heróis é matar Deus - chamado de Autoridade - ao mesmo tempo que o aparelhinho que os guia possui conhecimento divino do passado, presente e futuro; mais para frente, após a aparição de alguns personagens e revelação de suas intenções, dá-se a entender que a consciência por trás do aletiômetro não é a Autoridade, mas sim Satanás - ou algum outro nome para determinar a entidade maligna (que no caso é a salvadora dos homens). Sendo o aletiômetro o instrumento que transporta a voz do autor para os personagens, e também a forma de Satanás organizar sua investida contra Deus, não é a toa que a Igreja Católica arrumou briga com esse livro, afinal não é só uma obra de fantasia feita por um ateu, mas sim uma clara homenagem ao capiroto.

Tretas religiosas à parte, essa automatização das ações de Lyra, comandada pelo aletiômetro, tirou muito da emoção que a história trazia no seu primeiro volume. A busca de Will pelo seu pai ajudou a aliviar a monotonia da trama e tirar a sensação de orquestramento dos eventos da história, mas não achei suficiente para salvar o livro. O que realmente me fez concluir a leitura foram as explicações dos elementos (como o significado e função da matéria escura, da faca sutil, dos anjos, dos espectros, etc), e provavelmente serão eles que me farão ler o terceiro livro da série.

O que gostei
- A escrita é fluída e leve.
- Os personagens são bem definidos e carismáticos.
- Os elementos científicos-fantásticos e suas explicações.
- O enredo, numa visão macro, é bom.

O que não gostei
- A automatização dos eventos que levam a trama para frente.
- Algumas pequenas incoerências de roteiro, como a alma humana se transformar em dimon ao entrar no mundo de Lyra, mas não voltar para o corpo quando no mundo de Will.
- O autor força a barra quando faz Lyra deduzir DO NADA que no mundo de Will os dimons (que são figuras materiais) existem numa forma espiritual dentro do corpo humano.

Considerações finais
A faca sutil foi uma decepção, levando em conta a empolgação que senti no primeiro livro. Considero que o autor manteve seu padrão constante nas qualidades, mas extrapolou absurdamente a intensidade dos defeitos que já tinha demonstrado em A bússola de ouro. Não está na minha prioridade, mas pretendo um dia ler o livro 3, só para saber aonde essa merda vai dar.







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