segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Impressões: A última chave, de Camila Guerra

Na sequência, mais um post sobre livro escrito por uma brasileira contemporânea. Minhas impressões sobre A última chave, de Camila M. Guerra.


O que você faria se soubesse que pode viver em dois mundos?
Sofia mantém sua vida nas rédeas e está muito feliz sozinha. Até o dia em que encontra um livro intrigante que muda completamente a sua vida, envolvendo-a em uma série de sonhos estranhos.
Sem querer, ela passa a viver experiências muito intensas fora do corpo. Essas experiências trazem para sua vida um tufão, que bagunça seu auto-controle e, de quebra, traz-lhe uma indesejada e arrebatadora paixão e uma batalha incansável contra um inimigo feroz.
Sonho ou realidade? 
A realidade nos sonhos pode ser implacável e verdadeira…


Numa época cheia de magia e tecnologia imaginária permeando os livros de ficção, A última chave se destaca por ter uma essência inusitada. Mexendo com planos astrais, a autora entrou num campo que é comumente menosprezado para contar a história de Sofia. E antes de falar da moça, explico brevemente o menosprezo: a utilização de sonhos como artifício de roteiro é, na minha experiência pessoal, normalmente criticada e taxada como batida e sem graça na interação internética, principalmente baseada na ideia falsa de que é um recurso preguiçoso ou amplamente reutilizado, por pessoas que não acordam para o fato de que seus pressupostos fantásticos favoritos (realidades alternativas, viagens no tempo, exploração espacial, mundos ligados por portais) são exageradamente mais explorados que o sonhar.

Passada essa minha impressão sobre o tema do livro e a visão geral do público contemporâneo, é bom destacar que a história se mantém bastante pé no chão. Sofia é, para todos os efeitos, uma garota normal na faixa dos vinte anos, com atividades normais e uma curiosidade aguçada que a leva a alavancar a trama. A personagem faz parte de um elenco pequeno, mas bem caracterizado (à exceção de uns 4 que existem para tapar buraco, mas mesmo eles sendo superficiais, possuem nomes próprios e de fato têm buraco para tapar, não são jogados à toa). Todos são coerentes, e Marcus, o par romântico, é o mais energético, com atitudes e falas que mais tendem a causar impacto.

O estilo de escrita foi o ponto baixo da leitura. A estrutura frasal é, como pode-se ver na sinopse também, direta, ágil e bastante impessoal. É uma escrita que os analistas de “show, don't tell” iriam se deleitar criticando. Já tendo lido outros trabalhos da autora (com escrita primorosa, eu destaco), entendo que ela tem uma versatilidade grande de estilos, e encerrei o livro imaginando que a escolha do tipo de narrativa aplicado pode ter sido intencional, pensado no público-alvo ou no gênero da história. Para exemplificar, deixo dois trechos:


"Olhou para o relógio, que acusava 3:30h da manhã. Levou a mão à testa, no local da pancada. Não doía e nem parecia inchado. Levantou-se com um pouco de dificuldade e foi até o espelho. Olhou-se. Não havia mancha de pancada e nem calo. Acendeu a luz do quarto e olhou novamente no espelho, procurando pelo local machucado. Nenhum sinal da pancada, muito menos do corte na boca".

"Ele não era do tipo que envolvia-se com mulheres que havia acabado de conhecer. Muito menos com alunas ou colegas de trabalho. Muitas vezes tinha sido assediado por alunas que confundiam seu papel de professor. Ele sabia separar muito bem, estava ali para guiar as pessoas, levar conhecimento sobre um assunto mal difundido. Em onze anos de trabalho naquele campo, jamais tinha se deixado envolver por ninguém. Não faltaram oportunidades. Algumas alunas foram muito insistentes e trouxeram-lhe uma grande dor de cabeça, causando-lhe problemas para resolver a situação sem desestabilizar ninguém. Mas algo em Sofia, sua energia doce e ao mesmo tempo decidida e resolvida, havia despertado nele um desejo incontrolável de tê-la em seus braços".


Uma coisa que independe da adequação a público ou temática e que me irritou IMENSAMENTE na escrita foi o problema das repetições. Elas são inúmeras, permeiam todo o corpo do livro na forma de verbos, nomes próprios, substantivos simples, ações, o que der para imaginar. Há MUITAS repetições no texto, e se a narrativa não fosse tão simples e fácil de carregar o leitor pelas páginas, acredito que teria abandonado o livro por conta delas.


"Era como se conseguisse dali olhar a própria vida pelos olhos de um observador. Como se conseguisse ausentar-se de sua própria vida e observá-la de longe".

"Ela entendeu que não adiantaria explicar naquele momento, Sofia não ouviria, não aceitaria, não acreditaria. Matilda sentiu a raiva de Sofia e respeitou o momento. Sofia despediu-se de Laura e desceu rapidamente com os amigos".


No mais, o livro é curto, interessante, com uma temática diferenciada e gostoso de se conhecer. Não acredito que a fórmula da jornada do herói tenha sido utilizada aqui, mas foi interessante chegar em alguns momentos e perceber que Sofia estava trilhando o caminho de uma heroína. Para fechar, deixo uma referência que percebi (me pergunto se há outras referências não tão óbvias que deixei passar):


"Corram, seus tolos! — Gritou o senhor da porta da casa".


O que gostei:
- História interessante.
- Temática diferente e curiosa.
- Personagens bem apresentados.
- Final inesperado e recompensador.

O que não gostei:
- Muita repetição.
- Aos 40% do livro tive a única pausa demorada na leitura, pois há ali uma cena solta, mostrando o cotidiano de Sofia na faculdade, que é absolutamente inútil para a história.

Considerações finais:
A última chave é um livro de aventura, sobre um assunto interessante e capaz de levar o leitor muito facilmente pelas suas páginas. Com um ou outro percalço, é uma obra que recomendo para leitores jovens ou experientes buscando algo descompromissado.



Gostou da indicação? Você pode comprar aqui: http://amzn.to/2yAzxCQ
Comprando pelo link, eu receberei uma porcentagem da venda.






Nenhum comentário:

Postar um comentário