segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Impressões: Silo, de Hugh Howey


Minhas impressões sobre Silo, de Hugh Howey:



Em uma paisagem destruída e hostil, em um futuro ao qual poucos tiveram o azar de sobreviver, uma comunidade resiste, confinada em um gigantesco silo subterrâneo.
Lá dentro, mulheres e homens vivem enclausurados, sob regulamentos estritos, cercados por segredos e mentiras.
Para continuar ali, eles precisam seguir as regras, mas há quem se recuse a fazer isso. Essas pessoas são as que ousam sonhar e ter esperança, e que contagiam os outros com seu otimismo.
Um crime cuja punição é simples e mortal.
Elas são levadas para o lado de fora.
Juliette é uma dessas pessoas.
E talvez seja a última.


Em Silo acompanhamos a vida de uma micro-sociedade dentro de um bunker, morando há centenas de anos na estrutura autossuficiente sem saber realmente o que existe (ou se há qualquer coisa) no exterior. Após alguns eventos que exigem uma reestruturação dos cabeças, Juliette, uma moradora dos níveis mais baixos do silo acaba ocupando um dos cargos e descobrindo verdades perigosas sobre o que se passa na alta cúpula. Para ser silenciada, é enviada para o exterior - a sentença de morte - não sem antes plantar em alguns cidadãos a semente da desconfiança sobre aqueles que os governam.

Alguns elementos da narrativa relacionados a ciências aplicadas chamam atenção para o nível de precisão empregado, o que enriquece a leitura, mas no geral é uma história contada de modo lento, de progressão enfadonha e um uso duvidoso de poesia.


“'O volante que abre a porta não gira', ouviu em algum recôndito de sua mente. 'É uma porca emperrada.'”


Acima temos uso inteligente das porcas emperradas, uma analogia coerente que reforça a personagem e situa o leitor sobre o que ocorre, porém a mesma figura simbólica é usada em várias ocasiões, deixando a impressão de que Juliette só pensa em porcas e parafusos, até quando se depara com corpos humanos. Duas repetições marcantes são o som das pisadas de botas nos degraus da escadaria e o frio do corrimão; imagens recorrentes demais, que surgem quase sempre que a escadaria que une os andares do silo entra em cena. Outros empregos esquisitos aparecem na narrativa, demonstrando pobreza de vocabulário ou, pelo menos, má tradução:


"Os dois partiram apenas com uma faca, que Juliette tinha muita sorte de ainda ter. Como o objeto sobrevivera ao mergulho nas profundezas da mecânica era um mistério."

"Ela avançou pela estufa, os galhos das plantas se tocavam no meio do caminho como se estivessem dando as mãos, e então chegou até a bomba de circulação."


As descrições são breves, mais voltadas para a ambientação, cheias de sensações e carentes de detalhes visuais. Mesmo os personagens principais quase não possuem características físicas. É uma maneira difícil de estabelecer personagens, mas Hugh Howey consegue com a maioria deles. Alguns secundários, no entanto, ficam livres para a imaginação do leitor criar do zero. No geral, a falta de descrições desemperra a leitura, muito densa por conta da narração, e alivia um pouco o texto.


"O quarto dele era aconchegante e de bom gosto, com apenas uma cama de casal, mas bem-arrumado. As fazendas superiores eram apenas um dos mais de dez grandes empreendimentos privados. Todas as despesas de sua hospedagem seriam cobertas pelo orçamento de viagens do gabinete dela, e aquele dinheiro, assim como o proveniente dos outros viajantes por alimentação e hospedagem, ajudava o estabelecimento a adquirir artigos de melhor qualidade, como os belos lençóis dos teares e colchões que não rangiam."


O trecho acima foi algo que quebrou minha visão do silo. Em realidade, o livro inteiro parece ser análogo à transição de socialismo estatal para comunismo utópico, ao menos quando se percebe que os segredos da ala da TI progressivamente caem por terra e o o enredo caminha para uma conscientização geral da população sobre o que é o silo e qual o papel de cada um para se manterem vivos num mundo em ruínas, cada qual empregando seu papel não por obrigação, mas por consideração comunitária ao bem de todos. E de repente surge esse sistema monetário que não tem explicação alguma, e ainda reforça o sistema de "castas" estabelecido pela posição geográfica dos andares do silo (quanto mais profundo é o andar, menos conforto é oferecido aos moradores). Excluindo isso, existe uma coerência muito grande na história, tanto de cenário quando na trama.


O que gostei:
- Muitos mistérios, e apresentados de maneira a instigar a leitura.
- O conceito do cenário.
- A ambientação.

O que não gostei:
- Muita repetição com algumas metáforas.
- Alguns personagens passam em branco, não têm nem descrição física.
- Ritmo lento.


Considerações finais:
Silo logrou sucesso em me fazer terminar um livro de ficção científica, mas não sem alguns percalços. A história é lenta e é difícil pegar todos os personagens secundários - que só ganham papel ativo mais para o final - mas a história é interessante e os diversos mistérios vão puxando o leitor pelas páginas, de forma que quase todo capítulo termina com um clifhanger. Vale a pena para quem busca uma ficção científica cheia de suspense.


Link para compra:

2 comentários:

  1. Nossa! Ficou perfeita sua resenha Daniel. Apesar de ter feito essa leitura em no mesmo grupo que você, não tinha dado atenção pra esses detalhes. Parabéns! Você é um bom observador.

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  2. Nossa! Ficou perfeita sua resenha Daniel. Apesar de ter feito essa leitura em no mesmo grupo que você, não tinha dado atenção pra esses detalhes. Parabéns! Você é um bom observador.

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