domingo, 12 de julho de 2015

Impressões: Alameda dos pesadelos, de Karen Alvares


O livro da resenha de hoje é o romance de estreia de uma contista de produtividade hercúlea. Vamos à sinopse e minha opinião:



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Vívian era apenas uma mulher solitária, com uma vida normal, presa em sua rotina sem graça, até a noite em que presencia um acidente. A partir daí seu pesadelo começa; ela passa a ter visões de um homem que conheceu no passado e desejava nunca mais encontrar. E o pior: ele quer vingança.
Até que ponto um pesadelo é fruto da imaginação? Vívian descobre que o limite entre a alucinação e a realidade é tão pequeno que a loucura está a apenas um passo de distância e o pesadelo pode estar escondido na nossa mente, como um monstro à espreita, esperando sua chance de despertar. E para escapar do seu horror particular, Vívian precisará entender quais foram seus erros. E finalmente aceitar a própria culpa.


O livro é narrado em primeira pessoa e no tempo passado, nos dando a visão de Vívian sobre a vida (que não é nem um pouco fácil) e os personagens que aparecem na história. Estes são pouquíssimos, mas densamente desenvolvidos pelos diálogos construídos de maneira natural e pelas percepções da protagonista, sendo os mais presentes o menino Lucas, Gabriel e Caetano. Com eles viajamos na trama não linear e bem amarrada que até a metade do livro é bastante cotidiana, mas sem perder o clima de suspense característico das obras da autora. A história se passa em São Paulo, mas não há indicações de localização para classificar a história como regional - algo que tem sido muito explorado por autores nacionais contemporâneos do mesmo gênero literário - levando em conta que estou excluindo tempo chuvoso e trânsito lento como particularidades de São Paulo, mas isso não dificulta a imersão do leitor, pelo contrário, até facilita, já que qualquer leitor urbano pode se colocar nos eventos iniciais da história. Menções a músicas e cantores de conhecimento geral também auxiliam no reforço da ambientação da história.

A escrita é atual, com estruturação bem feita e que garante, pela simplicidade, a fluidez do texto. As páginas voam com a narrativa ágil ditada pela voz coloquial de Vívian e pelos diálogos quase sempre curtos e bastante verossímeis, respeitando personalidade, idade e maturidade de cada um. Uma ou outra metáfora chegou a me incomodar, entretanto, por estar deslocada com o resto da cena. Cabe um alerta sobre isso: assim que iniciei a leitura, na primeira página, me deparei com uma metáfora totalmente sem sentido, infantil e amadora, mas continuei lendo por conhecer o talento da autora e da segunda página em diante não tive outra decepção do tipo; na verdade, quando cheguei no meio do livro descobri, pelos caminhos que o enredo tinha tomado, que a metáfora inicial não só se encaixava na história como é de um brilhantismo ímpar, denotando GENIALIDADE na sua implementação. Ao fim do livro, existe um parágrafo que repete a metáfora e a explica, provavelmente para assegurar que seu significado não passe despercebido, mas sinceramente achei desnecessário, uma vez que a vigilância do leitor às nuances do texto já é suficiente para a percepção da importância da metáfora no contexto geral; explicar ao fim do livro só retira o fator de recompensa aos mais atentos.

Para fechar meu comentário, fica a observação: Alameda dos pesadelos é um livro espírita. Não acho que seja correto chegar ao ponto de taxá-lo como romance gospel/religioso, pois a religiosidade no livro não chega a suplantar as diretrizes narrativas, mas dizer que é uma fantasia urbana com fantasmas também não faz jus à obra. Acho importante deixar este aviso pois há um público muito vasto que pode se contentar sobremaneira com a obra, mas que pode passar batido por não identificar esta nuance que não é representada na capa ou na sinopse (olhando nas categorias da loja da amazon, percebi que sequer o livro está especificado como, sendo restrito à categoria de horror e ficção).

O que gostei:
- Narrativa fluída, com enredo bem estruturado e diálogos convincentes
- Ambientação simples, de fácil imersão
- Várias surpresas na trama

O que não gostei:
- Algumas poucas metáforas esquisitas espalhadas pelo livro
- Vívian é excelente quando decidida, por medo, raiva, coragem ou o que quer que seja, mas os momentos de indecisão dela são entediantes após a quarta crise de incredulidade. A trama às vezes até para de andar porque ela se nega a ver o que o leitor já se deu conta (e/ou já foi explicado por personagens ou situações) várias páginas antes.

Considerações finais:
Não seria justo dizer que Alameda dos Pesadelos é o melhor trabalho de Karen Alvares sem antes revisitar o enorme acervo de contos da autora, mas com certeza está entre os melhores, recomendo a leitura a qualquer pessoa. Cabe um elogio aqui ao belíssimo trabalho da editora também, fiquei impressionado com o cuidado na parte editorial.




Um comentário:

  1. Daniel, que maravilhoso saber que você leu Alameda dos Pesadelos e curtiu! :) Muito obrigada por essa resenha fantástica! Fiquei feliz e agradecida com os elogios, e vou guardar as observações que fez para melhorar nos meus próximos trabalhos. Vou divulgar a resenha em todas as minhas redes! Obrigada!!!

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