Cá estamos com a terceira edição da Revista Trasgo. Confesso que houve certa decepção durante a leitura; ainda que ao final meu veredito seja positivo, alguns contos desta edição não me cativaram como eu esperava, especialmente se a leitura for comparada às edições #1 e #2. O formato é o mesmo: fiquem com a capa e as minhas breves considerações sobre cada conto.

O primeiro conto que li foi Rosas Brancas, de Roberto de Souza Causo e já iniciei a edição fora da zona de conforto. Meu gosto para ficção científica é bastante restrito, prefiro quando o texto se mantém ficção científica a quando se apresentam mais como ciência ficcional, se posso assim diferenciar. A narrativa do autor é muito bonita, com toques de poesia aqui e ali, e a trama se desenvolve agilmente com pitadas de amores destruídos (maternal e conjugal). Mas aí vem a ciência especulativa, cheia de termos e extrapolações que particularmente vejo como o floreio desnecessário nas histórias futuristas (mas, como diz uma amiga minha, fazer o quê?). Aos apreciadores desse tipo de inserção tecnológica em histórias, provavelmente o conto será muito bem vindo com a sua temática orgânico-cibernética.
Retornei ao início do ebook para ler o primeiro conto da edição: O empacotador de memórias, de Gael Rodrigues. O meu motivo para ter pulado o conto é bastante particular: eu tenho um problema de falta de memória, e é muito, muito raro (mas não impossível) eu acabar gostando de histórias com esse tema, justamente por tratar de um tema que afeta bastante (negativamente, devo frisar) a minha vida. O conto mostra a infância e vida adulta de um homem solitário que descobriu como guardar memórias em bolhas de sabão e caixas de papelão. A escrita é bem tranquila, mas a narrativa exige algumas abstrações, fazendo o leitor se perguntar o significado de uma memória e o que ela afeta o que ele é ou já foi na vida. O final achei bem intrigante.
Feita de um sonho é o terceiro conto da revista, e é de autoria de Caroline Policarpo Veloso. Este conto foi o que me impulsionou a continuar lendo, ao invés de desligar o Kindle e postergar a leitura (algo que faço muito quando leio coletâneas de contos). O tema me afetou de maneira oposta à leitura anterior, uma vez que eu sou um onironauta (ainda que tenha poucas viagens completadas com êxito) e falar sobre sonhos - lúcidos principalmente - é algo que gosto muito. Caroline me presenteou com uma escrita super fluída e uma história com um ritmo sensacional que nos faz pensar sobre a correria cotidiana, nossas inseguranças (in)conscientes e a importância que um sonho pode ter na vida pessoal. O aspecto fantástico do conto acabou ficando diluído, sem tanta importância, mas no final a dose de fantasia foi incrementada, deixando-me satisfeito. Infelizmente fiquei com a sensação de que o conto ficou inacabado; não sei se a autora pretende expandir essa história, mas se acontecer,.com certeza é algo que eu comprarei.
Pulei novamente a ordem da revista para o conto Viral, de Tiago Cordeiro. A história nos mostra uma abordagem diferente sobre uma infestação zumbi, e apesar de achar muito criativa a forma que ele deu à essa infestação, o transcorrer da história não me agradou. atribuições matemáticas e sonoras aparecem no conto junto a vários outros elementos jogados num enredo corrido e inconclusivo. Não chamaria de formal, mas a escrita do autor me pareceu automática, e, sem ser cativado, terminei a leitura sem muita vontade de pensar sobre o que tinha acabado de ler.
Voltei para páginas anteriores e encontrei Invasão, de Cláudio Parreira. O texto é simplesmente GENIAL, comédia sensacional que eu não posso falar muito a não ser dizer que é foda e que me diverti bastante lendo. Gostei tanto da trama quanto da escrita do autor, mas para não dizer que só falei bem, me sinto na obrigação de informar uma coisa ao autor: Regiane Alves>>>>Bruna Lombardi.
Para finalizar, o conto O vento do oeste, de Liége Báccaro Toledo. Uma história de fantasia com inspiração nos mitos árabes e ambientação desértica, onde conheceremos parte da vida de um mestiço que busca um lugar onde sua descendência demoníaca não seja motivo de ódio e rejeição. O enredo é legal, mas muito centrada no desenvolvimento do personagem e, até a parte mais avançada, sem muitos motivos externos para fazer a trama seguir. Felizmente a escrita da autora é simples e estimulante, o que compensou a minha vontade de fazer pausas e pude terminar de ler sem interrupções.
A edição #4 já está disponível NO SITE e comecei a ler hoje cedo. =)